Os muros de escaladas são pequenos muros montados para a prática da escalada. Embora com dimensões reduzidas, os muros de escaladas, quando bem estruturados e utilizados, são uma poderosa ferramenta para o desenvolvimento do escalador.
O MURO
Na natureza, a possibilidade de formas tamanhos e inclinações são infinitas. O mesmo acontece na hora de desenvolver um muro. No entanto, como os muros de escaladas são montados em locais com espaço físico restrito e buscam o desenvolvimento do escalador, um muro simples e regulável é mais do que suficiente para o treinamento.
O muro-modelo apresentado aqui será um muro regulável (0-50 graus)de 220 x 320 cm (Figura 1). Mesmo em uma superfície de 7 m², este muro poderá suportar até 350 agarras de diversos tamanhos, o que permitirá uma grande variedade de vias e movimentos devido a grande densidade de agarras.
ESPAÇO FÍSICO NECESSÁRIO
Para a construção deste muro é necessário que o local a ser escolhido, coberto ou não, tenha no mínimo 320 cm de altura, 260 cm de largura e 350 cm de comprimento. Qualquer medida inferior a supracitada exigirá pequenas alterações no projeto.
Um outro fator muito importante a ser levado em conta é a possibilidade de adentrar no quarto com todo o material. Os caibros e chapas são de dimensões respeitosas e muitas vezes não entram em algumas peças da casa. Por isso meça antes.
MATERIAL NECESSÁRIO
- 2 chapas de virola 14 mm x 220 cm x 160 cm;
- 4 caibros de cedrinho 2 pol. x 3 pol. 320 cm;
- 2 caibros de cedrinho 2 pol. x 2 pol. 220 cm;
- 6 taquinhos de pinus 1 pol. x 10 cm x 30 cm;
- 400 porcagarras 1/4 ou 5/16 pol;
- 2 polias com 3 roldanas;
- 7 mosquetões ovais ou malhas rápidas;
- 8 chapeletas;
- 8 parafusos 5/16 pol. x 5 pol;
- 6 parafusos 1/4 pol. x 3 pol;
- 48 parafusos do tipo mitofix 4 mm x 50 mm;
- 4 chumbadores ou 4 ancoragens químicas (leia mais em fixação);
- 3 cordeletes 6 mm x 200 cm;
- 30 m corda estática 10 mm;
- Agarras
- Parafusos sextavados ou allens para as agarras de diversos comprimentos e de acordo com a bitola das porcagarras.
FERRAMENTAS NECESSÁRIAS
- Furadeira com martelete
- Broca para madeira de 1/4 e 5/16 pol
- Broca para concreto de 1/2 pol
- Martelo
- Parafusadora com chave philipps ou uma chave philipps
- Serrote
- Chave de boca 1/4, 5/16 e 1/2 pol
- Chave allen ou chave L para fixar as agarras
PASSO 1 – COLOCANDO AS ANCORAGENS NA PAREDE
Este é um ponto muito importante para a segurança do muro. De nada irá adiantar construir um muro lindo cheio de agarras se ele não aguentar o próprio peso e mais o do escalador ou escaladores.
As ancoragens são os pontos, normalmente 3, que unem o muro a uma estrutura fixa (parede, pilares, estrturas fixas…)
Dentre as inúmeras possibilidades, as parede de tijolos ou pilares de concretos são os mais encontrados. No caso dos tijolos é necessário verificar primeiramente se são do tipo tijolos abertos ou maciços, pois para cada caso há um tipo de fixação recomentada.
Figura 2 – Figura da esq.:Vista frontal do módulo com as duas chapas dispostas ao comprido uma sobre a outra. Centro: Vista posterior do muro com os caibros ao comprido (4) e atravessados (2). Note os taquinhos colocados entre as chapas. Os círculos pretos são os locais aonde serão fixadas as chapeletas (Figura 3A) No detalhe: malha de porcagarras coladas uma das outras a 25 cm. na parte posterior do muro.
Para parede de tijolo maciço, ou de concreto, o mais recomendado são os chumbadores com camisa de até 7pol. por 1/2 pol de diâmetro (ancoragens HSL) ou cola química com barra roscada+ camisa metálica (HIT HY150). (Figura 3B – topo)
Embora os chumbadores sejam mais baratas que as químicas, elas necessitam de maior atenção principalmente quando colocados em paredes de tijolo maciça devida a baixa resistência mecânica dos mesmos.
E m vista disto, para paredes de tijolo maciço as mais recomendadas ainda são as ancoragens químicas.
Agora, se a parede for de tijolo oco, a melhor solução são as ancoragens químicas para paredes ocas (HIT HY 20). (Figura 3B – base)
Maiores informações e técnicas podem ser encontrados nos catálogos e no site da HILTI (www.hilti.com/br).
As três ancoragens devem ser colocadas, a aproximadamente 330 cm do chão e espaçadas a 110 cm, com as chapeletas.
Figura 3 – Vista lateral do muro. Note a configuração em “V” no sistema de fixação do muro. Zoom dos pontos A-D ao lado. Figura 3A: fixação de ancoragens no muro com chapeletas (sup) e fixação das chapas com a estrutura utilizando mitofix (base). |
Figura 3B : Sup: ancoragem com barra roscada e químico em parede oca. Inf: ancoragem com chumbador de jaqueta em parede maciça ou concreto. Figura 3C : fixação das agarras na chapa com porcagarra e parafuso. |
Figura 3D : colocação de taquinhos entre duas chapas. Fixação com parafusos. |
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Figura 4 – Vista posterior do módulo. Note os dois sistemas de corda utilizados na regulagem do muro. Para maiores detalhes e infos sobre os dois sistemas, consulte o texto e as figuras a baixo.
PASSO 2 – FURANDO AS CHAPAS
1- em uma das chapas, faça uma malha regular de 25cm de espaçamento. (Figura 2 – dir.)
2-coloque a outra chapa por baixo da matriz e fure as duas chapas ao mesmo tempo utilizando uma broca 8mm para porcagarras 1/4 e 10mm se for de 5/16.
3-coloque as porcagarras nos furos e bata com o martelo para que as garras fixem bem na madeira.
PASSO 3 – FIXANDO AS CHAPAS NOS CAIBROS
A fixação das chapas nos caibros pode ser feita de duas maneiras, dependendo do espaço físico disponível.
a) caso o local ofereça o dobro do espaço que o muro irá ocupar, todo o processo de fixação poderá ser feita com os caibros colocados no chão e as chapas colocadas sobre eles, para depois de fixados seja virado e colocado na posição final.
b) por outro lado, caso o espaço físico seja restrito, a coisa é um pouco mais trabalhosa. Neste caso é necessário pré-colocar os caibros na posição final utilizando as cordas a fim de manter os caibros em pé para assim poder colocar as chapas (dica: coloque a chapa inferior primeiro e pregue provisoriamente com pregos).
Para fixar as chapas nos caibros fixe-as com parafusos do tipo mitofix (Figura 3A – inf.). (Dica: faça um pré-furo com a furadeira até 2/3 do comprimento do mitofix, isto irá facilitar a colocação dos mesmos, principalmente se for colocado manualmente)
PASSO 4 – SISTEMA DE REGULAGEM
A fixação do muro na parede por sistema de polias para a regulagem da inclinação pode parecer aparentemente um tanto quanto complexa, mas obedece uma lógica simples.
Para cada ancoragem colocada na parede, ou seja três, haverá um sistema de cordas que irá unir ao muro. As extremidades serão fixadas por um sistema sem polias (Figura 5 ), enquanto que o meio será fixada por um sistema com polias (Figura 6).
A montagem deste sistema exigirá a colocação de pontos de ancoragens no muro em locais estratégicos (Figura 2- centro – bolinhas pretas marcando os pontos de fixação das ancoragens no muro). A figura 3A mostra como é feita esta fixação via parafuso + chapeleta.
A alma de toda a regulagem está no sistema de corda central aonde estará o sistema de polias (Figura 6). A melhor forma de entender a montagem dos sistemas é apartir da observação das figuras 5 e 6.
Por fim, é necessário colocar os taquinhos nas junções das chapas para evitar que as chapas “trabalhem” quando usamos agarras colocadas próximas as emendas. Para evitar isto, basta colocar estes taquinhos nas emendas das chapas (Figura 2 – centro) e fixá-las com parafusos (Figura 3D).
A regulagem da inclinação do muro segue a seguinte ordem:
Para diminuir a inclinação do muro.
a) como o auxílio das polias centrais regule a inclinação do muro até o ponto desejado e trave a corda com o nó blocante.
b) vá a um dos sistemas laterais e tensione o sistema e trave.
c) por fim, vá a outra extremidade e tensione o sistema de tal forma que o muro fique paralela, evitando sobrecarga sob um único sistema. Pronto agora você poderá escalar com segurança.
Para aumentar a inclinação do muro.
a) No sistema central, tracione o muro de tal forma que alivie a carga nos sistemas laterais e trave.
b) com os sistemas laterais levemente aliviados, libere a quantidade de corda necessária e trave. (faça isso nos dois sistemas)
c) Por último, volte ao sistema central e vá inclinando o muro até tensionar os sistemas laterais. Trave o sistema e boas escaladas.
Obs 1: Note que o sistema central, durante a regulagem do muro é solicitado ao máximo, por isso ao colocar a ancoragem central esteja certo de sua resistência.
Obs 2: Toda a regulagem é feita atrás do muro, logo é necessário que tenha um acesso lateral para a parte posterior do muro.
PASSO 5 – COLOCANDO AS AGARRAS
A colocação das agarras parece ser a parte mais banal de tudo isso levando em conta a “complexidade” dos sistemas de cordas, belo engano! Muitos escaladores e principalmente empresários pecam neste detalhe final. Muitas vezes investem fortunas para montar um muro robusto, grande e bonito para na hora de colocar agarras, poupar grana e acabam colocando poucas agarras ou agarras de qualidade inferior. Moral da história, de nada adianta um bom muro se não tiver aonde se segurar direito.
Mas também de nada adianta você ter em mãos as melhores agarras do mundo se você não souber fazer bom uso delas. Então aqui vão algumas dicas úteis quanto a colocação das agarras:
– escolha agarras com tamanhos e pegadas variadas;
– coloque agarras de pés boas e ruins na base do muro até 120 cm do chão.
Figura 5- Sistema de cordas para a fixação do muro com a parede (ponta esquerda e ponta direita) utilizando um nó blocante para a regulagem. A regulagem é feita tracionando ou liberando a extremidade livre da corda com o auxílio do nó blocante.
Figura 6 – Sistema de corda central. Com uma das extremidades do sistema ancorada à ancoragem central e a outra aos caibros internos. O sistema central é a alma de toda a regulagem do muro.
– Além das agarras boas no topo de muro, experimente colocar algumas abauladas no topo, isso dará mais emoção no final dos boulders;
– Use e abuse das pegadas invertidas, de lado e diagonais. Evite colocar as agarras com pegada na horizontal;
– Para aproveitar ao máximo o muro comece os boulders e vias sentado, encolhido;
– Coloque algumas invertidas nas saídas dos boulders, seus bíceps agradecerão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Aproveite bem o muro, traga os seus amigos e amigas e faça sessões de treinos. Use e abuse dos colchões. Aqueça e alongue bem antes e depois de cada sessão. Boas escaladas!
Fonte: Agarrasauro