Escalar uma alta montanha como o Everest, Makalu, Kilimanjaro, exige muitos conhecimentos de técnicas de escalada, cuidados com o gelo e a neve, frio, alimentação e aclimatação, mas um dos pontos mais importantes de um desafio como o de Rodrigo Raineri e Eduardo Kekkpe, que em 28 de maio alcançaram o cume do Everest, tornando-se o sexto e sétimo brasileiros no topo da montanha, é manter a consciência corporal acima dos 8 mil metros de altitude.
“Durante exercícios fortes aqui em baixo, você pára, descansa e se recupera. Lá em cima (na montanha) você pára e continua morrendo, não tem como descansar. Então essa relação do desgaste físico, com a falta de oxigênio e o tamanho do esforço físico que vem pela frente é uma equação muito difícil de resolver aqui embaixo, lá em cima, em hipóxia (baixo teor de oxigênio nos tecidos orgânicos), é pior porque perde-se noção da consciência corporal”, explicou Raineri, na chegada do Nepal, no último sábado (7).
O montanhista afirmou que prefere tomar todas as decisões de estratégias e atitudes a serem tomadas na escalada antes da viagem. Como no caso do uso de oxigênio suplementar. Rodrigo fez todo seu planejamento de ataque ao cume ainda no Brasil, e decidiu que somente deixaria de usar os cilindros se os ventos da montanha estivessem até 30 km/h.
“Meu padrão de segurança para atacar o cume sem oxigênio era 30 km/h, mas como estava acima de 50 km/h não tive muito o que pensar, não. É uma série de situações pré-pensadas para não chegar no calor do momento e se esquecer de algo, ou não conseguir sentir como está seu corpo”, contou Rodrigo.
Atitude correta – Eduardo Keppke foi para a expedição no Everest com Rodrigo Raineri já com a estratégia de usar cilindros de oxigênio a partir de aproximadamente 7 mil metros de altitude.
“É bom a gente lembrar que a única pessoa que subiu ao cume sem oxigênio esse ano, morreu. Outras quatro pessoas desistiram de tentar a escalada sem cilindros, sendo que já haviam feito isso em outra temporada, ou seja, as condições do tempo realmente não estavam boas para isso”, disse Keppke, lembrando a morte do suíço Gianni Goltz, de 45 anos, no dia 22 de maio.
O montanhista alertou que a investida sem oxigênio poderia ter causado um congelamento das extremidades do corpo de Raineri, como pés e mãos. “Foi a idéia mais ponderada desistir do ataque sem oxigênio. E ele está aqui, inteiro, graças a isso”, finalizou.