Alguns minutos depois comecei a perceber na escuridão, um morro alto à minha esquerda e bem próximo, que me obrigava a tentar contorná-lo pela direita. De repente chego numa espécie de área de estacionamento, com algumas barraquinhas, provavelmente de artesanato ou coisa assim. Reparei então um caminho íngreme por entre a vegetação no tal morro e percebi que o “morro” era uma duna, uma corda auxiliava a subida íngreme. No alto da imensa duna, minha lanterna não conseguia iluminar mais do que alguns metros e eu somente pude ter a sensação do imenso espaço escuro que estava a minha frente. Estava eu na borda da imensa faixa de areia que eu atravessaria nos próximos dias.
Sexta feira me atrasei para o voo de 16:00 h e só pude chegar no aeroporto para o de 23:30 de sexta-feira, depois de pegar dois ônibus. A atendente desta vez recusou minha xerox da identidade, voltei para casa pra pegar outro documento e voltar a tempo de pegar o vôo das 7:00. Pela manhã, após dois ônibus, chego num aeroporto bem diferente do que vi na noite anterior. Filas gigantes e o vôo das sete lotado. Por sorte consegui ser um dos três escolhidos da fila de espera do voo de 9:30. Mas em São Luiz, as 14:00, descobri q minha mochila não embarcara no mesmo voo que eu. Só a reavi na manhã seguinte.
Mais dificuldades para chegar em Tutóia, onde eu começaria a andar e mudei meu destino, resolvi ir para Barreirinhas, cidade base para os Lençóis Maranhenses.
No domingo, já eram 16:00 horas quando, depois de almoçar, saquei uma grana no caixa eletrônico e fui procurar algum transporte que me levasse até as dunas.
Todas as toyotas só sairiam no dia seguinte as nove da manhã.
Minhas opções eram passar a noite lá numa pousada e depois pagar 25 reais no frete ou caminhar os 12 km para a Lagoa Azul, já nas dunas. Depois de poucas informações, atravessei o rio Preguiças num barco e comecei a andar por caminho largo de areia fofa, sulcada pelos pneus dos jipes e margeada por alta e impenetrável vegetação de restinga.
Calculei que andaria 3 horas no máximo, mas já era noite e tinham se passado umas quatro horas e nem sinal de chegar. Muitos toyotas passaram por mim apinhados de turistas e alguém zombou: -Falta pouco!
Cheguei num lugarejo onde algumas pessoas conversavam em pé na porta de uma espécie de igreja. A luz que vinha do interior da pequena casinha quebrava o breu da noite e revelava alguns rostos de moradores locais. Desliguei minha lanterna de cabeça e perguntei pela lagoa Azul. Tinham passado várias bifurcações e eu não me preocupara com a direção, somente segui as marcas mais fundas de pneus.
Indicaram-me a direita e continuei a andar. Mais uma hora e eu já sentia os efeitos do cansaço. Cheguei numa casa onde consegui distinguir um casal que conversava no escuro junto a uma cerca. Dirigi-me a eles, ávido por algum tipo de informação, e achei curioso quando os dois correram pra dentro da cerca como se fugissem de mim. Apaguei a lanterna e me antecipei em cumprimentá-los e pedir logo a informação.
– Lagoa Azul é por ali, mas ainda faltam 12 km!
Putz! Nova mudança de planos:
– E por aqui eu chego nas dunas?
– Sim, por aqui você chega na Lagoa Bonita, é pertinho, só um quilômetro e meio.
Agradeci e continuei mais aliviado. Alguns minutos depois comecei a perceber na escuridão, um morro alto à minha esquerda e bem próximo, que me obrigava a tentar contorná-lo pela direita. De repente chego numa espécie de área de estacionamento, com algumas barraquinhas, provavelmente de artesanato ou coisa assim. Reparei então um caminho íngreme por entre a vegetação no tal morro e percebi que o “morro” era uma duna, uma corda auxiliava a subida íngreme.
No alto da imensa duna, minha lanterna não conseguia iluminar mais do que alguns metros e eu somente pude ter a sensação do imenso espaço escuro que estava a minha frente. Estava eu na borda da imensa faixa de areia que eu atravessaria nos próximos dias. Comecei a andar agora procurando um lugar para armar o acampamento, mas já seguindo a direção noroeste e encontrei o primeiro lago. Era muito legal descer pela rampa íngreme e cair nas águas cristalinas e quentes daquela piscina imensa.
Pensei em fazer um bivaque, a noite estava ótima, mas nos 20 km que andei de Barreirinhas a Lagoa Bonita já tomara uma chuva e achei melhor montar a barraca.
Na manhã seguinte acordava em pleno deserto maranhense.
Acho que um terço do meu tempo caminhando eu passei dentro das piscinas cruzando-as para não perder tempo contornando. Era muito bom. Numa delas achei até uma tartaruga!
Na noite anterior, acordei com o barulho da chuva, mas continuei dormindo logo após. De manhã percebi que parte da mochila estava encharcada. Enquanto eu estendia minhas coisas ao sol e começava a desmontar o acampamento percebi um grupo ao longe, subindo uma duna alta. Logo depois, dois jovens com aspectos de moradores locais se aproximaram de mim e pediram que eu desarmasse minha barraca e armasse aos pés das dunas, pois o grupo queria fazer uma tomada para um filme eu estava encravado bem no meio da cena. Avisei que já estava de saída mais ia levar uma meia hora pra arrumar minhas coisas. Acho que eles estavam com pressa, pois ia dar o horário das toyotas chegarem com a multidão de turistas, segundo eles aquele era o primeiro dia sem chuva. Meio desesperados, não saíram do meu lado enquanto não parti, e me ofereceram duas vezes pra me ajudar, o que recusei, meio irritado. Mas acabei tirando uma dúvida com um deles na partida que seria crucial.
Eu estava somente com uma revista que continha uma matéria deste roteiro com um croqui de um mapa do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, com um norte magnético inclusive. Pegara também dois prospectos de empresas de eco-turismo que ofereciam passeios pelas lagoas. Nesses prospectos haviam mapas estilizados com pontos turísticos do Maranhão, incluindo o parque. Planejando minha rota pelo mapa da revista, cheguei a conclusão de que tinha que seguir para Noroeste, para alcançar um ponto no meio do parque que chamava Baixa Grande, uma espécie de oásis na margem de um rio. Mas o norte indicado no mapa estava errado e conversando com os dois guias, fiquei sabendo que dali, de Lagoa Bonita, eu teria que simplesmente seguir rumo ao norte Magnético – 22 graus a oeste do norte geográfico.
Como eu estava sem GPS, procurei seguir o rumo mais reto possível para não sair muito da rota no final. Subia direto pelas dunas e descia esquiando o lado íngreme, caindo nas lagoas e caminhando por elas, cruzando-as, sempre preocupado em caminhar em linha reta, sem contornar estas ondulações. Esta travessia é feita no sentido Leste-Oeste por causa do vento que torna o lado leste das dunas uma rampa suave e o lado oeste uma parede íngreme.
Quando já caminhava mais ao longe, vi uma multidão de turistas se alastrando pelas dunas.
Nesse dia, já percebi que trouxera desnecessariamente garrafa para água e hydro camel. Quando sentia sede bastava me agachar numa das centenas de lagoas de água doce e beber até encher a barriga.
As três da tarde comecei a ver o céu ficando negro no horizonte pro lado oeste e achei que demoraria pra chuva chegar em mim. Logo eu já sentia o vento aumentando e no alto de uma duna eu cheguei a ser açoitado violentamente por um jato de areia que queimava minhas pernas como uma surra de arame. Parei pra filmar a cena incrível. A areia lembrava uma miniatura do jetstream das altas montanhas – Jatos de ventos fortíssimos que castigam os cumes das montanhas dos Andes e Himalaia.
Acho que depois disso o alto falante e o motor da filmadora pifou. Tinha areia por todo canto.
Não deu dez minutos e caiu uma chuva pesada. Minha mochila estava com a capa de chuva, mas o vento fazia com que nada permanecesse seco. Caminhei alguns minutos assim até achar um quiosque de teto de palha onde resolvi me abrigar da chuva. Era incrível como aquele telhado rústico não tinha uma goteira, naquela chuva grossa que durou a tarde inteira.
Aproveitei pra terminar de ler o livro que eu comprara no aeroporto.
A chuva durou a noite inteira e armei a barraca ali embaixo, protegido somente por causa dos mosquitos, que eram insuportáveis.