Sempre que eu viajo para Campos fico admirando aquela fabulosa montanha. Logo depois do carnaval em São Thomé das Letras, resolvi fazer um circuito, sair pedalando da BR-101, na altura de Macaé, em direção a Glicério, subir o Frade e depois seguir para Sana. Se desse tempo, também voltar pedalando até em casa. Vini Held veio comigo e iríamos encontrar Mônica e Junior em Sana.
Saímos da BR por volta das 15hs da quinta-feira, passamos por Glicério e lá descobrimos que teríamos que pedalar até Tapéra, trecho só de subida. Estavam asfaltando a serra, nos primeiros 5 km era asfalto e depois, para piorar, veio o barro. A noite caiu e estávamos lá, ainda subindo, empurrando as bikes, pois não agüentávamos mais. Minha bike, com equipamento de escalada, tava pesada bagaray. Por fim, chegamos a Tapéra às 20hs e meu pneu dianteiro havia furado. Após parar num boteco para trocar a câmara de ar, eu e Vini iríamos decidir onde passaríamos a noite. O boteco estava fechando e o dono do lugar falou que poderíamos dormir ali fora, porém Vini não queria bivacar, pois ele não conseguiria dormir direito. A pousada não seria uma boa opção, pois estávamos em cidades que nem tinham banco e precisaríamos de dinheiro em Sana. Voltamos a sair pela cidade para procurar algum pedacinho de terra para armar a barraca. O único lugar que vi onde poderíamos ficar era num bar ao lado de uma mesa de bilhar. O bar estava fechando e fui falar com o dono. O cara tava cheio de cachaça, então falei:
– Opa, amigão, vamos tentar subir o frade amanhã e queria saber se podemos armar a barraca ali no cantinho ao lado da mesa? Vamos sair bem cedinho e não vamos incomodar!
Ele respondeu:
-Meeuuu Amiiiguuu! Eu gasxxxtei um dinnnheiiiro para consxxtruir isso. Deixa Dexszz pratasxx que ta tranqüiluuu.
-Esse FDP cobrou vocês! Deixa ele pra lá, eu tenho um galpão e vocês podem dormir lá.
Subimos todo o pasto, lá no final achei a trilha bem definida e gritei:
– Aê Vini, achamos!
Chegando ao bairro Frade, às 19:30hs, procuramos logo um lugar para comer. Achamos um PF caprichado e comemos tanto que ficamos até tristes. As cidades da região têm chuveiros no meio da rua. Também, com a fartura de água que possuem, não podia ser diferente, e do lado do PF tinha um, tomamos uma ducha ali o que deu uma reanimada. Saímos dali e paramos em frente um boteco onde havia um desenho gigante da Pedra do Frade, muito legal e parei para tirar foto. Foi então que a dona do boteco veio para conversar e dizer que seu Pai, de 65 anos, fazia ciclo turismo. Perguntou se a gente não o conhecia. Logo juntou um bando de crianças perguntando, e contados as aventuras deles também.
Um deles disse:
– A gente aqui faz muita doideira, uma vez montei numa égua braba e ela correu mato adentro. Eu me esquivando dos galhos, até que consegui domá-la com uma linha que tinha.
O outro:
Às 22hs partimos para Sana, usávamos os faróis e lanternas, pois a estradinha era horrível, com muita pedra e a energia do PF foi gastando rapidamente. Chegamos num trecho só de subida e começamos a empurrar as bikes. Vini, a cada curva, reclamava e falava igual nosso colega LH Moreira:
– Kralho! PQP! Essa merda não para de subir não? Porra. Tem necessidade disso?
Enfim começamos a descer. Descida boa. E descemos bastante, a cidade nada de chegar. Vini já estava até reclamando na descida também! hauhauhauhauahuaha.
– Luizão, a cidade não passou não?
– Não, Vini.
– Ali, ali uma placa! É para a cidade.
Sorte nossa Mônica ser tagarela, toda cidade já nos conhecia.
– Caraca, vocês que vieram do Frade? Maneiro, seus amigos estão na mesma pousada que a gente.