Para escritor, eco-limite de concreto lembra Berlim; Iíderes comunitários e ambientalistas defendem proteção da mata.
O esc
Para escritor, eco-limite de concreto lembra Berlim; Iíderes comunitários e ambientalistas defendem proteção da mata.
O escritor português José Saramago, prêmio Nobel de Literatura, deixou anteontem a ficção de lado para falar sobre a realidade brasileira. Após comentar em seu blog a demarcação da reserva indígena da Raposa Serra do Sol em Roraima, ele criticou a ideia de cercar as favelas cariocas com muros e comparou os eco-lirnites – que estão sendo erguidos pelo governo do estado para proteger áreas verdes e ev1tar a expansão das comunidades – ao Muro de Berlim.
“Cá para baixo, na Cidade Maravilhosa, a do samba e do caro naval. A situação não está melhor. A Ideia agora é rodear as favelas com um muro de cimento armado de três metros de altura. Tivemos o muro de Berlim, temos os muros da Palestina, agora os do Rio. Entretanto, o crime organizado campeia por toda a parte. As cumplicidades verticais e horizontais penetram nos aparelhos de Estado e na sociedade em geral. A corrupção parece Imbatível. Que fazer?”, escreveu Saramago.
O post no blog do escritor provocou polêmica. Para Regina Chiaradia, presidente da Associação de Moradores de Botafogo, a palavra muro tem uma conotação que pode ter sido Interpretada negativamente pelo escritor.
– Evito falar muro, prefiro falar em eco-Iimite. Ele não é um elemento segregador é uma forma de se proteger a mata. Se não puser um limite, quando chove, cai tudo. Mata é para ter árvore. Não para ter barraco ou mansão. A discussão é ambiental, não social.
O ambientalista Rogério Zouen diz que o muro pode dar margem à interpretação de que a cidade está partida e que a construção serviria para separar pessoas. Por isso, ele defende que os eco-limites sejam feitos de outra forma:
– O ideal seria ter fiscalização. Se houvesse não seria necessário muro, cabo, pilastraI nada.
Presidente da Associação de Moradores do Cantagalo, Luiz Bezerra do Nascimento
confia na fiscalização: se não for a do poder público, a da própria comunidade. Ele conta que, há cinco anos uma área no alto da favela foi demarcada pela prefeitura com cabos no Cantagalo. O limite foi relativamente re peltado.
– A associação de moradores lutava sempre para Impedir a construção acima da cota cem. Eu dizia que eles Iriam perder as casas se ultrapassassem o limite. Deu certo.
No Pavão-Pavãozinho, porém, as barreiras foram ignoradas:
– Foram construídas várias casas depois da barreira. Mas temos que respeitar a mata, que é do bairro todo, não só de quem mora na favela. Quem fala contra os limites é porque quer especular – diz Luiz.