Estou na barca Lagoa, no percurso Mangaratiba – Ilha Grande. São 08:00 h de uma manhã de domingo ensolarada. Fico a contemplar as pessoas, o mar, as aves, o balanço gostoso que me faz retornar à cadeira de balanço de papai… Limpo a mente de todos os problemas e mentalizo minhas energias para aquela montanha que cresce em minha frente com uma postura arrogante como quem diz: “poucos conseguem chegar ao meu cume, poucos se atrevem a pisar meu corpo, poucos se atrevem a fincar estacas em meu rosto, mas para aqueles que persistem, que não desistem na primeira adversidade, guardo uma pequena jóia: a visão do paraíso. Uma imagem que marcará sua alma tal como um ferro em brasa na sua carne.”
Desço da barca, faço um pequeno lanche “mineirado” – “broacucafé”. Estico-me, contorço-me, puxo a musculatura ao máximo. Preparo-me para iniciar minhas roubadas em 2004.
Para tal Pico não se faz necessário grande mochila, basta uma de ataque com um lanche normal e é justamente o que carrego comigo. “Tclack”- pronto !!! O fecho está seguro. Mochila ajustada à cintura, lá vou eu desafiar montanha tão abusada.
Pego o caminho de Dois Rios, logo não tarda a indicação do início da trilha à direita. Existe uma placa em bom estado a sinalizar. São 12 km (ida e volta). A trilha estava úmida devido à forte chuva que castigou a região no sábado. Encontra-se bem marcada, com algumas placas pelo percurso. Gasta-se, num ritmo normal, 02:30 h de subida e 02:00 h de descida. Tanto é verdade que fomos às 08:00 h e voltamos às 17:30 h do mesmo dia. Ora, não se assustem pelo plural, estavam comigo na empreitada o Mister mínimo impacto Junior; a doce Adriana; a destemida Carla e o ligeiro Mister Luizão. Eis aqui a razão de o passeio ter sido tão agradável: coesão de almas !!!!
A trilha possui uma vegetação cerrada o que a faz muito agradável – não caminhamos no sol. Quase todo percurso é feito debaixo de uma sombra repousante mas, em compensação não se enganem, a sensação térmica de estufa faz-se presente o tempo todo.
Vi dois pontos de coleta de água. Em reportagem recente, li que não eram indicados para consumo, mas é aquela história, tudo depende do grau de sua sede. Como fui com essa informação, levei água para todo o percurso. Usei dois litros – o suficiente – e olha que tenho uma sudorese elevada a enésima potência.
Um pouco antes do final do Pico chega-se a um grande paredão rochoso. Um amigo e uma amiga do grupo enchem os olhos de alegria ao vê-lo (tal como uma criança quando ganha um brinquedo): escaladores profissionais – as mãos coçam para descerem o paredão em rapel desafiador. Tal vontade, infelizmente, não se concretiza em virtude do pouco tempo que ficamos no cume – 01:00 h – haja vista que já estávamos com a passagem comprada para às 17:30 h.
Chegamos ao cume embaixo de um sol escaldante, parecia que ele despejava gotas de ácido em nossos corpos. Porém, tal sensação era minorada pela paisagem que se esparramava à nossa frente: nuvens de algodão faziam a barra das montanhas no continente; lanchas riscavam o mar dando a sensação que fogos de artifícios espocavam na água; a virgem Restinga da Marambaia chorava baixinho um amor que nunca virá; a baderna de Abraão; o tesão de Lopes Mendes, enfim, uma reunião de imagens que faz qualquer ser humano retornar ao seu lugar, ou seja, sua insignificância quando comparado à natureza.
Assim sendo, fico a me perguntar como pode uma montanha não tão alta (990 m); com um grau de dificuldade médio; com água a contento, possuir uma das vistas mais lindas que já invadiu minha alma. Resposta não tenho. Acho que é segredo guardado a sete chaves por Deus.
A barca de volta foi dedicada aos braços de Morfeu para alguns. Não consegui pregar os olhos. Estava a relembrar o dia ímpar que acabara de viver. Um clima de festa invadiu meu ser e até um anjo veio a sorrir para mim: era Camila, uma criança com o cabelinho dourado, com o quepe do Comandante da barca que distribuía beijos, molejos e sorrisos sapecas a todos. Foi o “Grant Finale” de um dia inesquecível e a certeza que será uma excelente temporada.
Para quem ainda não o fez, vá e sinta como é gostoso andar, como é gostoso vencer desafios, como é gostoso viver….
Até qualquer trilha.
LHMoreira – o andarilho