Nos deparamos então com uma enorme pedra e o pessoal avistou um grampo no alto. Tentamos subir de alguma forma, mas não conseguimos. Comecei a contornar a pedra para a direita, tentando achar alguma passagem e fui vendo que a pedra ia ficando cada vez mais alta e íngreme. Ao escutar o resto do grupo perguntando se era aquele o caminho, disse que ainda não havia achado, pois não tinha certeza ainda. Finalmente achei uma fenda e comecei a subir para a esquerda, mas passei por alguns caminhos bem difíceis.
Os preparativos para esta aventura começaram cedo, sempre falávamos nesta subida e comecei a estudar sobre o lugar. Eu procurei muito por cartas topográficas do lugar, por ter lido que mesmo pessoas experientes costumam se perder nessa região. Compramos algumas coisas também como, toucas ninja e gorros de lã, luvas, isolantes térmicos, pois outra coisa que nos assustava era o frio que fazia naquele lugar.
O grupo partiu as seis da manhã de sexta com sete pessoas: Eu, Luizão, Filipi, Rafael, Xanda, Marcelo e Abdon. Nenhum de nós conhecia o lugar. Eu e Rafael chegamos a mandar emails para a direção do Parque pedindo informações, mas recebemos algumas respostas que não ajudaram nada. Para o Rafael informaram que a trilha estava fechada e para mim aconselharam a ir com um guia, pois o caminho era difícil e perigoso. Difícil, sempre é, parece que as coisas nunca são fáceis para nós.
Quando chegamos no começo da estrada de terra para a parte alta do parque o frio já nos impressionou. No Rio devia estar uns 32 graus e lá estava já com uns 18 (eu levei um multímetro que marcava a temperatura). Ali parece que é a parada para os que chegam colocarem os casacos e o que partem tirarem. Compramos pinhão, doces e continuamos por 17 quilômetros de estrada de pedras – não é de terra não! O ideal é que se vá com um Jipe ou Pickup, porque meu carro voltou cheio de barulho de tanto arrastar o fundo nos pedregulhos de até 30 cm de altura. Mas o caminho é lindo. Ao lado da estrada muitas pessoas acampavam em terrenos naturalmente gramados com riachos cristalinos e araucárias.
Chegamos na entrada do Parque Nacional de Itatiaia e a entrada era três reais. Ainda pegamos mais um ou dois kilômetros de pedreira tentando chegar ao Abrigo Rebouças, onde fica o início da trilha para o Agulhas Negras, mas desistimos de ir de carro e nos arrumamos para começarmos a caminhar, e além do mais, toda hora passava por nós grupos e mais grupos de pessoas seguindo a pé. Após alguns minutos de caminhada avistamos o Pico. A visão é deslumbrante. A montanha é muito alta e íngreme e inteira de rocha com sulcos de cima a baixo lembrando agulhas. Não dava pra imaginar um caminho. Na realidade existem vários e o importante é seguir o mais fácil, com menos escaladas.
Começamos a andar por uma trilha que se bifurcava várias vezes em meio a uma vegetação rasteira e logo ia se transformando em vãos entre as numerosas pedras que iam aparecendo, logo caminhávamos sobre uma rampa de rocha tentando adivinhar por onde seguir.
Nos deparamos então com uma enorme pedra e o pessoal avistou um grampo no alto. Tentamos subir de alguma forma, mas não conseguimos. Comecei a contornar a pedra para a direita, tentando achar alguma passagem e fui vendo que a pedra ia ficando cada vez mais alta e íngreme. Ao escutar o resto do grupo perguntando se era aquele o caminho, disse que ainda não havia achado, pois não tinha certeza ainda. Finalmente achei uma fenda e comecei a subir para a esquerda, mas passei por alguns caminhos bem difíceis. Quando finalmente, depois de me esgueirar por muitas pedras, consegui ver pessoas descendo por um lugar que parecia uma escadaria, tentei chamar o resto, dizendo que tinha achado o caminho, mas não ouvia resposta. Assobiei e gritei e nada. Voltar seria muito difícil já que a maior parte do tempo eu desci deslizando por pedras que seriam difíceis de subir. Tentei subir pelo então caminho encontrado e quando vi um lugar pra direita fui para ver se achava o pessoal. Nisso, ouvi um dos que desciam falar com alguém alguma coisa como “Ele foi por ali”, “Era um que tava com material de rapel na mochila?” – Eu trazia alguns mosquetões pendurados nas tiras da mochila -, “Ele subiu e depois virou a direita, pegando o caminho errado”. Percebi que falavam de mim e gritei: “- Estou aqui!”. Billy Jean foi quem respondeu bem distante. Sem conseguir vê-lo, gritei para ele que havia achado o caminho e consegui entender alguma coisa sobre eles também estarem em um caminho. Combinamos, então subirmos cada um pelo seu lado e tentarmos nos encontrarmos mais acima.
Continuei subindo pela escadaria, que era uma espécie de canaleta entre dois picos e aos poucos fui percebendo que, se nos encontrássemos, talvez fosse só lá em cima. Não demorou muito e cheguei ao cume. Antes passei por vários grupos descendo, alguns com uns vinte. Era por volta de duas e meia da tarde e me preocupei com a hora em que desceria. Lá em cima, talvez por ser feriado, encontrei umas cinqüenta pessoas e avistei o livro que o pessoal assina, mas em uma pedra separada do cume. Lá só se chega descendo de rapel uma parede de uns 8 metros e escalando a pedra que deve ter mais uns oito ou nove metros. Decidi que não poderia deixar de assinar o livro e comecei a me preparar. Fiquei de bermuda, coloquei o bauldrier, mosquetão e oito e comecei a esperar. Como o resto do meu grupo não chegava, achei que tinham voltado e já estava me acostumando com a idéia de subir novamente o pico no dia seguinte com a galera. No livro, três caras começavam a descer e um pessoal já tinha se preparado para subir. Então eu pedi para subir com eles e eles aceitaram. Usando a corda deles cheguei ao livro e consegui assiná-lo e deixar também o endereço do site.
Mas eu já começava a ficar preocupado. Teriam desistido e voltado? Tinha se passado muito tempo, não é possível que ainda estivessem a caminho. A hipótese de ter acontecido um acidente me passou pela cabeça, mas era o menos provável. Perguntei se havia outro caminho pelo outro lado do pico, pois eu já tinha ouvido que existe um onde você passa por uma chaminé e como eu não tinha visto nenhuma, imaginava que seria este por onde viriam. Me mostraram um lugar sinistro, com uma canaleta estreita a beira de um abismo de uns 500 metros ou mais e eu me receei que viessem por ali. O grupo que me ajudou a escalar até o livro pediu para mim esperá-los para que descessemos todos juntos, pois eles não tinham muita certeza do caminho e eu me arrumei e só fiquei esperando o pessoal terminar de se preparar quando tive um susto ao ver o Rafael!
Ele me levou até o local por onde os outros escalavam, e se eu não os visse chegando, duvidaria que alguém pudesse subir por ali. Era uma chaminé com duas pedras lisas como uma parede, e eu via o Billy Jean já vindo falar comigo, Abdon puxando a Xanda amarrada pela cintura por uma corda branca e fina e Marcelo e Luizão lá embaixo.
A Estória Contada por Billy Jean
Quando o grupo se separou , o pessoal que ficou unido achou o caminho que o Junior foi meio estranho, enquanto isso eu e Abdon tentávamos subir a pedra pra ver se o caminho era por ali. Foi então que Marcelo descobriu uma trilha que fazia a volta na pedra para depois subir. Após isso não viram mais o Junior. Enquanto Rafael e Marcelo iam a frente procurando o melhor caminho, eu voltei para procurar Junior, já que ele demorava a aparecer, neste momento começei a achar que ele poderia ter se acidentado, pois eu gritava e ninguém respondia, então subi uma pedra que dava pra ver o outro lado por onde acreditava que o Junior poderia ter ido. Encontrei umas pessoas descendo e gritei para eles, que disseram ter visto um cara com as mesmas características do Junior indo por um caminho errado, neste momento o Junior que devia estar próximo escutou a minha voz e gritou, falando que havia ido pela esquerda da pedra, enquanto eu e o resto do grupo fomos pela direita. Como acreditávamos que logo as trilhas iam se encontrar, marcamos de nos encontrarmos lá em cima. Voltei para junto dos outros e avisei que havia encontrado o Junior.
Quando cheguei ao outro lado da pedra onde estavam os outros, a maioria já havia passado por uma outra rocha, em que alguns precisaram usar uma corda velha que já se encontrava lá. O Luizão me ajudou a subir e como foi o último, ficou encarregado de levar esta corda, pois a corda e bauldriers que o grupo levava ficaram com o Junior e não sabíamos se iríamos precisar dela novamente. Abdon subiu a pedra que vinha em seguida com ajuda do Marcelo e colocou a corda para o resto subir, após passarmos as mochilas para ele, começamos a subir. Logo após esta pedra haviam muitas pedras e apenas um pequeno vão para podermos passar, os maiores sofreram para passar, e claro não dava para passar de mochila, estas mais uma vez foram passadas de um para o outro. Quando eu passei pelo vão, o Luizão já estava subindo para saber se havia caminho e como alguns membros do grupo estavam com medo, voltei pelo vão e peguei a corda que havíamos deixado presa na pedra anterior. Ao voltar com a corda, Rafael e Marcelo também já tinham subido, então ele entregou a corda ao Abdon que a entregou ao Rafael. Só que eles haviam deixado duas mochilas, eu e Xanda tivemos que carregar as mochilas e mais uma pochete por entre pedras que formavam uma fenda muito escorregadia, por pouco a mochila não passa. A vista neste lugar era muito bonita e nos tentou a tirar uma foto.
Continuando o caminho, havia um vão ainda menor do que o outro que já havíamos transposto, passamos todos mais uma vez sem as mochilas, que foram passadas de mão em mão. Chegamos, então, a uma espécie de caverna. Luizão já havia subido com a ajuda do Marcelo, que também ajudou o Abdon e a mim para subir, depois ajudei Marcelo e puxamos mais uma vez as mochilas que estavam amarradas na corda. Xanda veio puxada, amarrada também à corda, e por último subiu Rafael. Quando pensamos que o pior já havia passado, tivemos uma desagradável surpresa. Ainda tinham que subir uma parede pequena usando uma técnica de escalada chamada oposição, chaminé ou step, e mais uma pedra, onde foi amarrada a corda. Desta vez, demos alguns nós ao longo da corda para facilitar a subida. Luizão e Abdon não precisaram da corda, subindo por umas pedras ao lado, o resto, preferiu não arriscar. Chegando em cima desta pedra, nos deparamos com mais duas pedras que se opunham uma à outra, formando uma fenda muito estreita, a qual o Abdon já havia subido. O cume parecia não chegar nunca. Marcelo também tentou subir esta fenda, mas logo no início escorregou, ficou com receio e acabou voltando. Então jogou a corda para o Abdon, que já estava lá em cima congelando com o vento que já era constante, isto aumentava ainda mais a nossa dificuldade. Ao olhar aquela fenda, sabendo que o Abdon já estava no topo, eu resolvi tentar subir e fui subindo. Só que quando estava quase no final, meu pé, que já estava há muito tempo dobrado, começou a doer. Parei e estiquei bem o pé, mas não podia ficar ali muito tempo, pois já estava cansado. Abdon, percebendo isso, esticou o pé para que eu segurasse para subir, e foi isso que fiz. Logo depois veio o Rafael do mesmo jeito que eu, sendo içado também pelo pé do Abdon (a minha mãe deve estar grata ao Abdon). Jogaram a corda para o restante subir e finalmente chegar ao topo, para encontrar com o Junior que já estava há duas horas esperando e no final ficou com inveja de não ter passado por nossa dificuldade!
Só que ainda não tinha acabado, enquanto o pessoal descansava do enorme esforço, tirava fotos e contava as aventuras o tempo passava e o sol ficava cada vez mais baixo. Quando resolveram, finalmente começar a descida, já era cinco horas e a preocupação maior era terminar o trecho rochoso e de escalada antes que escurecesse, pois se já era difícil e pessoas experientes se perdiam com a luz do dia, imagina à noite. Mas a noite os pegou ainda na pedra, desceram algumas ladeiras bem íngremes no escuro e chegaram a um ponto em que a rampa virava uma parede de 90 º para baixo. Depois de chegarem a conclusão de que passaram do caminho, resolveram voltar um pouco e para a direita até que encontraram um grampo na pedra. Talvez esta fosse a pedra que os tivesse separado, mas se não fosse, aquilo era um sinal que pelo menos seria um caminho. Como lá em baixo tudo era breu e a pedra era bem íngreme, amarraram a corda e Junior desceu para ver onde dava. Tocando os pés no chão encharcado, avisou q os outros também poderiam descer. Xanda colocou o cinto-cadeira, pois no final tinha que se fazer muita força no braço.
Continuaram então tropeçando na trilha escura, que agora mais parecia o leito de um córregozinho, tamanha água empoçada havia ali. O caminho parecia muito mais longo, talvez pelo desgaste que todos estavam sentindo, afinal ninguém havia parado para almoçar e o frio já estava congelando também. Alguma coisa acontecia, pois a maioria sentia dores de cabeça, enjôo, cólicas ou mau-humor, além do extremo cansaço. Talvez fosse efeitos da altitude. Quando chegaram no carro parado na estrada dentro do parque, tiveram uma surpresa. Uma camada de gelo cobria o para-brisa dos dois carros e o termômetro marcava 7 graus às sete horas da noite! Perceberam todos o que seria se não tivessem conseguido descer e tivessem que passar a noite no Pico.
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* Fotos maiores cedidas por Maurício da Conceição