ITATIAIA, O PRIMEIRO PARQUE NACIONAL DO BRASIL, COMPLETA 70 ANOS COM DUAS CENTENAS DE VIAS QUE GUARDAM A HISTÓRIA DO MONTANHISMO NO BRASIL
ITATIAIA, O PRIMEIRO PARQUE NACIONAL DO BRASIL, COMPLETA 70 ANOS COM DUAS CENTENAS DE VIAS QUE GUARDAM A HISTÓRIA DO MONTANHISMO NO BRASIL
ELISEU FRECHOU
A HISTÓRIA DO MONTANHISMO NO ITATIAIA se mistura com a história desse esporte no Brasil. Grandes escaladores passaram por lá e hoje o local é ponto de encontro dos maiores nomes da verticalidade tupiniquim.
A altitude, temperatura amena durante quase todo o ano e a possibilidade de escolher entre a escalada esportiva e a escalada de aventura tornaram o lugar referência no eixo Rio-SPMinas. É o lugar onde as tribos da montanha, da aventura e da escalada se encontram e convivem.
Foi pela caneta do então presidente Getúlio Vargas que o Parque Nacional do Itatiaia (PNI) nasceu, em 14 de junho de 1937. Hoje, às vésperas de completar 70 anos, o PNI abriga cerca de 200 vias de escalada numa área de 30 mil hectares, mais um entorno de cerca de dez quilômetros que também obedece a regras de uso e preservação.
O caminho das pedras
Vindo do Rio, siga pela via Dutra, sentido São Paulo, até a cidade de Engenheiro Passos. Dali suba pela BR- 354, sentido sul de Minas Gerais. Na BR-354, siga em direção ao bairro Garganta do Registro (km 0 da 354).
O mesmo acesso serve para quem vem de São Paulo. Para quem vem de Minas, vá até a cidade de Itamonte e depois, pela BR-354, chegue no mesmo km 0. Nesse ponto zero começa a rodovia das Flores, estrada de terra que termina na portaria do parque nacional. Ela atravessa ou dá acesso a vários points citados nesta matéria.
Para ingressar no parque, é necessário pagar R$ 12 de ingresso por pessoa e assinar um termo de responsabilidade.
Se quiser seguir de carro da guarita do parque até o Abrigo Rebouças (onde está o apoio aos visitantes), agende antes. Há uma taxa de R$ 5 por veículo. Visando a preservação, existem diversas normas a serem seguidas e todas devem estar expostas em editais visíveis ao visitante. Informe-se junto ao pessoal do posto. Além disso, o Manual de Escaladas e Montanhismo do Planalto do Itatiaia e Sul do RJ e MG, de Eliseu Frechou e Felipe Guimarães, traz diversas informações, croquis e fotos de 158 rotas em bom estado de conservação na região. O livreto está à venda em lojas especializadas. Mais informações sobre o parque e as regras de escalada no site www.icmbio.gov.br/parnaitatiaia |
Muito antes da região virar um parque, ela já instigava aventureiros como José Franklin da Silva, o “Massena”, que escalou o pico das Agulhas Negras em 1856. A montanha, com 2.791 metros de altitude, foi considerada por muitos anos o ponto mais alto do Brasil (hoje sabe-se que ela é o quinto). Mesmo sem ter chegado ao topo, o relato do feito caiu nas mãos da corte imperial, gerando euforia e atraindo atenção ao lugar – assim como aconteceu com a conquista da dupla Horácio de Carvalho e José Borba, que abriu a via Normal, chegando à pedra do Púlpito.
Mas foi somente em 1919 que o ponto mais alto do parque (a pedra Isolada ou Itatiaiaçu, com 2.791 metros) recebeu a primeira visita de escaladores. O brasileiro Osvaldo Leal Carlos e o suíço Joseph Spierling acreditaram, na época, terem atingido o ponto mais alto do Brasil. A mesma dupla, mais um escalador chamado João Freitas, ainda conquistaram a rota sul das Prateleiras, em 1920. O caminho que eles abriram em meio aos gigantescos blocos maciços de rocha, curiosamente encaixados e suspensos, é hoje a via mais freqüentada da montanha.
AS PAREDES ITATIAIAS FORAM TESTEMUNHAS e campos de teste para equipamentos e técnicas que consagraram e impulsionaram o desenvolvimento dos esportes de rocha no Brasil. Tanto no Couto como nas Prateleiras – dois points onde se concentrou a maior parte das rotas -, a escalada oferece poucas agarras, predominando a aderência.
Assim, as chaminés – enormes fendas, do tamanho de uma porta, onde o escalador entra inteiro e sobe fazendo oposição entre as costas e os pés – foram as primeiras vias conquistadas em Itatiaia nos anos 70. Em seguida, foi a vez das fendas mais estreitas, com o apoio de cunhas de madeira para proteção durante a progressão, mais um monte de equipamentos rudimentares, que ofereciam uma segurança mais psicológica que real. Era normal usar cordas de fibras naturais e as sapatilhas eram meras sandálias estilo alpargatas, com solados de corda. Troncos, cabos de aço e uma variedade de grampos também eram usados em trechos onde não existiam fendas. Era um tempo heróico, no qual a aventura era mais importante que o esporte. Uma época que trilhou o caminho do esporte no Brasil, definindo a grade de classificação de dificuldade e o estilo brasileiro de subir montanhas.Assim, os montanhistas buscaram as fendas, que são mais fáceis de escalar quando se usa as técnicas corretas. Já as aderências eram bem complicadas de subir antes da década de 70, quando as sapatilhas, item essencial numa escalada de aderência, melhoraram tecnicamente.