Na verdade, a única coisa que a bússola faz é apontar o Norte Magnético. E não é a coisa mais precisa do mundo. A agulha da bússola pode ser desviada por grandes quantidades de minério de ferro, objetos de aço, linhas de alta tensão e outras bússolas (quando próximas demais). E nestes casos, a agulha indicará uma falsa direção. Assim, é preciso avaliar a qualidade e características de sua bússola antes de cada saída em campo. Mais adiante veremos como fazer isto.
Uma bússola atual de modelo simples é uma caixinha circular (cápsula) de material transparente. Lá dentro está uma peça metálica a que chamamos de agulha. Esta peça fica equilibrada sobre um pino e tem livre movimento circular na horizontal. Como a agulha é imantada ela aponta, sempre, para o Norte Magnético. Nas boas bússolas, o interior da cápsula é preenchido por um fluido viscoso, destinado a diminuir a “oscilação” da agulha. As bússolas destinadas a serem sobrepostas aos mapas são feitas em acrílico transparente e se assemelham ao desenho acima.
Em torno da cápsula, está um anel giratório graduado denominado Limbo. No fundo da cápsula há uma série de linhas paralelas. As linhas mais finas servem para alinhar a bússola (ou a cápsula) às linhas norte-sul da grade de coordenadas do mapa. As duas linhas mais centrais (no fundo da cápsula) são enfatizadas (mais grossas, cor diferente, ou um desenho especial). A faixa entre estas linhas internas chama-se Seta-Guia. A seta-guia normalmente está em perfeito alinhamento com o 0 (zero) ou “N” do limbo. Mas alguns modelos de bússola permitem que a seta-guia seja ligeiramente desviada, para compensar a declinação magnética. Sobre a placa-base da bússola, partindo da cápsula há uma seta apontando para extremidade mais distante: esta é a Linha-de-Fé.
O limbo, dependendo do tamanho da bússola, é graduado de grau em grau ou de 2 em 2 graus, ou mesmo mais. Quanto menor o diâmetro do limbo, mais graus haverá entre cada par de marcas. Assim, uma bússola muito pequena oferece menor precisão, pois a graduação terá divisões pouco nítidas. Uma bússola que não tenha um limbo giratório do mesmo modo terá pouca utilidade na prática.
Normalmente a escala do Limbo é em graus. Esta escala vai de 0º a 360º (ou a marca N, no limbo), começando e terminando no mesmo ponto, denominado norte-do-limbo. Os valores lidos no limbo sã o chamados de Azimutes Magnéticos (não confundir com “rumo”, que é coisa diferente). Azimutes magnéticos sã o valores angulares que começam na direção do norte magnético (apontada pela agulha) e vão até uma direção escolhida por nós. Esta direção pode ser a de um pico de montanha, uma árvore grande, uma casa ou outro referencial qualquer.
Provavelmente você já sabe que o Pólo Norte Magnético está afastado em vários quilômetros do Pólo Norte Geográfico (verdadeiro). A diferença angular entre estes dois pólos é chamada de Declinação Magnética.. Tenha sempre em mente: a bússola tem como referência o Norte Magnético, enquanto os mapas se referem ao Norte Geográfico, e a diferença angular entre eles muda sempre. Consulte em seu mapa qual a diferença anual a ser compensada. Ela varia em cerca de 8 minutos por ano (1 grau tem 60 minutos) aproximadamente, mas seu mapa fornecerá esse dado com exatidão.
Para evitar que você tenha que fazer muitos cálculos, algumas bússola já vêm com um parafuso de compensação da declinação. A finalidade deste parafuso é desalinhar a Seta-Guia em relação ao “N” do limbo, compensando com um desalinhamento angular a declinação e no sentido oposto.
Como foi dito no início, a bússola só serve para lhe apontar direções. Cabe a você escolher a direção certa. E para saber a direção a seguir, você precisa saber em que lugar você se encontra . Em outras palavras: sem um mapa, uma bússola servirá apenas para nos manter em um determinado rumo escolhido, não servindo para nos orientar muito mais que isso. A maioria dos nossos mapas são em escalas muito amplas, ficando muitas vezes difícil localizar (no mapa) nossa posição. É aí que entra a bússola.
Marcando o Ponto
Antes de mais nada, de mapa na mão, olhe em volta. Localize 3 pontos (no mínimo) do terreno que você consiga identificar (com certeza) no mapa. Tais pontos referenciais podem ser a margem de um lago ou represa, o pico pontudo de uma montanha, uma casa (igrejas e escolas geralmente estão marcadas nos mapas), entroncamentos, redes elétricas e cruzamentos de estradas e/ou trilhas, etc. Quanto mais distantes estes pontos estiverem, melhor. Estes 3 pontos devem ser vistos do lugar onde você se encontra. Se necessário, mude de posição até achar uma localização que lhe permita isso.
Agora, pegue a bússola, segurando-a na horizontal, e aponte a Linha-de-Fé para a primeira referência escolhida. Gire o limbo até que a Seta-Guia esteja exatamente sob a ponta-norte da agulha. Leia, na escala do limbo, o valor apresentado ao pé da Linha-de-Fé. Este é o azimute do local onde você está ao referencial escolhido. Anote-o em algum lugar… No mapa não! Use um bloquinho ou cadernetinha.
Parabéns! Você acabou de fazer sua primeira visada para a marcação do ponto!
Sem sair do lugar. Repita o processo para os demais referenciais.
Muito bem. Se quiser, já pode sair do lugar. Procure onde possa abrir o mapa, local plano, uma grande pedra chata seria ótimo.
Agora vamos marcar no mapa (de leve, usando um lápis), uma linha partindo de cada referencial escolhido. Onde estas 3 linhas se cruzarem é onde você está. Para marcar estas linhas, faça assim:
1) Oriente o mapa com a bússola. Ou seja, “zere” o limbo, rodando-o até que o N esteja sob a Linha-de-Fé. Alinhe a Linha-de-Fé com os meridianos do mapa (linhas norte-sul, verticais). com o mapa aberto sobre a pedra, gire-o até que agulha, seta-guia, linha-de-fé e o meridiano do mapa estejam todos alinhados. O mapa está, agora, orientado com o norte magnético.
2) Não mova mais o mapa!
3) Gire o limbo, ajustando para o primeiro azimute lido. Usando a placa-base da bússola como régua, ponha um de seus extremos sobre o primeiro referencial. girando sobre este ponto, acerte procure a direção em que a agulha ira se ajustar sobre a seta-guia. Usado o lado da placa-base, risque (de leve) um traço que passe pelo ponto referencial e pela área onde você imagina estar.
4) Repita o passo 3 para cada um dos outros referenciais. Onde as linhas cruzarem, é onde você está. Não espere que as linhas se cruzem, bonitinhas, todas sobre um mesmo ponto, exatamente. talvez elas formem um pequeno trângulo. Isto acontece devido as erros de mirada, de ajuste ou leitura do limbo durante a visada. Se você achar que o triângulo está grande demais, ou desconfiar de qualquer outra coisa, repita as visadas. Pode até trocar de bússola, desde de que use a mesma para visar e lançar os traços no mapa.
Seguindo um Roteiro
Pode acontecer de um amigo lhe dar o roteiro de uma excursão que ele fez. Este roteiro pode ser apenas uma lista escrita, contendo azimutes, distâncias (ou tempos) ou pontos de referência. Ou pode ser um croqui, um tipo muito rústico de mapa, contendo linhas mal traçadas e azimutes.
Seria bom se você pudesse comparar sua bússola com a do seu amigo. Assim saberia se há alguma distorção entre elas, o que não é incomum. Basta usar ambas as bússolas para fazer visadas a um mesmo ponto e anotar a diferença numérica e o sentido (leste ou oeste). Anote isto no roteiro, algo como: “A minha bússola marca 10 graus a mais (a leste) que a do Zé”.
Marcar o curso é algo como fazer uma visada de obtenção de azimute, só a ordem das coisas é que mudam.
1) Ajuste o limbo para o azimute desejado.
2) Segure a bússola diante de você, com a mão esquerda e a direita por baixo (algo como a gente vê, na TV, os policiais fazendo ao apontar a arma. Só não precisa esticar tanto os braços).
3) Gire o corpo até que a agulha se sobreponha à seta-guia. Seu curso será para onde a Linha-de-fé estiver apontando.
Um último conselho: escolha um região perto de sua casa e da qual você tenha um mapa, e vá lá durante alguns fins-de-semana e pratique. Obtenha azimutes, lance cursos, crie um roteiro e depois siga-o ao contrário. Pratique até tudo se tornar automático.