Conforme a chuva ia aumentando a canaleta em volta da barraca já não dava mais conta e para piorar ainda mais, o lugar onde estávamos era fechado e não havia lugar para a água escorrer. Não ia demorar muito e todo aquele lugar iria virar uma piscina. A barraca do Rogério, que estava na parte mais baixa foi a primeira a se encher de água.
E lá fomos nós. Eu e a Marcia aguardamos na Praça Principal de Bananal o Rogério e o Maurício virem de Barra Mansa para subirmos até a Pousada Brejal, localizada no alto da Serra da Bocaina, que estava a cerca de 1 hora e 30 minutos. Existe um circular que sai de Bananal e chega próximo da Pousada, mas com horários um pouco ingratos (06:30 e 14:30 hrs) o que nos obrigou a arranjar um transporte. No dia combinado (09/07) por volta das 21:00 hrs os dois chegaram em uma Kombi. Havia um pequeno problema de que naquele dia havia chovido na cidade, mas seguimos conforme o planejado. Chegamos na Pousada por volta das 23:00 hrs e o Carlinhos já nos aguardava com um farto jantar que incluía uma truta assada e um vinho que o Rogério trouxe. O valor da diária, que incluía 1 refeição e café da manhã foi de $25,00/pessoa. A Pousada também dispõe de camping. Boa parte dos quartos são coletivos, assim como o banheiro, mas era o ideal para a gente. Fomos dormir com uma noite toda estrelada.
Acordamos pouco depois das 07:00 hrs com um tempo que estava perfeito para a caminhada. O céu totalmente sem nuvens e um sol que prometia perdurar por dias. Só prometia, porque não foi o que aconteceu. Comemos um farto café da manhã, arrumamos nossas mochilas e seguimos em direção a Pedra o Frade, onde planejávamos chegar antes do fim da tarde. Saímos da Pousada por volta das 09:00 hrs. A caminhada até o inicio da trilha segue pela estrada de terra, rumo sul. Depois de uns 15 minutos já pudemos observar toda imponente à frente a Pedra do Frade e em seguida passamos pela Fazenda Seda Moderna e um pequeno cruzeiro à esquerda, visto da estrada. Logo à frente chegamos no marco que indica o final da Rodovia SP 247 (divisa SP/RJ). A estrada ainda segue em frente, contornando para a direita e chegando em uma porteira que indica Pousada do Rio Mimoso a 1,5 Km, mas o caminho segue para a direita, passando por uma outra cerca de arame, que fica ao lado da Porteira. Logo à frente, a estrada chegará em uma outra porteira, indicando Propriedade Particular. Passamos por ela e continuamos em frente. A partir desse ponto a estrada já começa a ficar precária, com vários pontos de alagamento. Cerca de 20 minutos depois da Porteira haverá uma pequena ponte com troncos de árvores sobre um riacho e a frente aparece o Rio Bonito, logo à esquerda, onde deve-se abandonar a estrada e atravessá-lo para iniciar a trilha do outro lado. O rio tem cerca de uns 5 mts de largura com água até o joelho (aqui não existe ponte). Inicialmente a trilha segue por campo aberto, virando à direita, ao lado de um enorme pinheiro. Alguns minutos depois, a trilha cruzará com um riachinho, onde existe um brejo e daqui para frente a trilha entrará em mata fechada e passará por diversas áreas de brejo. Cerca de 30 minutos desde o Rio Bonito, a trilha cruzará com outro rio, o Goiabeira de aproximadamente 4 metros de largura, mas bem mais raso. Atravessando o rio, surgirão mais brejos e uma bifurcação à direita e à esquerda que se deve desprezá-la. Mais a frente quando a trilha chegar em um riachinho, ela tomara a forma de T onde deve-se tomar a trilha da direita para mais a frente chegar em um local de descampado, onde tem-se a segunda visão da Pedra. Um riacho atravessa o descampado que serve para uma pequena parada. Seguindo em frente e mais uns 20 minutos cruza-se novamente com outro descampado, com solo irregular e bem menor que o primeiro. Tem-se aqui a última visão da Pedra. Logo a frente haverá bifurcações à direita e à esquerda, mas a trilha correta é sempre em frente e na trilha demarcada e nítida, com uma ou outra subida. Aproximadamente 1 hora desde o primeiro descampado encontra-se uma enorme árvore caída do lado esquerdo, com as raízes formando uma espécie de gruta. Caminhando mais 1 hora se chega a uma bifurcação bem nítida do lado direito que leva até o bairro do Perequê, no final da travessia da serra da Bocaina ou Trilha do Ouro, junto ao Rio Mambucaba. É uma trilha de umas 6 horas que usamos ao retornarmos da Pedra. Passando essa bifurcação e seguindo em frente, depois de uns 20 minutos se chega a um pequeno descampado, onde existe uma outra bifurcação. Nesse local haverá uma inscrição em uma árvore das letras PF e uma seta indicando para a bifurcação da direita. A trilha da esquerda nem procuramos saber para onde seguiria. Virando para a direita, logo cruzamos com um riacho e pouco mais a frente um pequeno rio passará ao longo da trilha pelo lado esquerdo, com algumas bifurcações, que devem ser desprezadas. A seguir inicia uma pequena subida de um morro e foi a partir desse ponto que a chuva começou a cair, fazendo com que aumentássemos o ritmo.
O Maurício foi na frente, como se estivesse correndo. Eu, logo atrás e depois o Rogério e a Marcia. Nossa pretensão era chegar na gruta, antes que a chuva piorasse mais, mas não deu tempo. Passamos por uma bifurcação que desce a um angulo de 90 graus do lado direito e seguimos em frente. Paramos um pouco para colocar nossas capas de mochila, porque vimos que a chuva não ia dar trégua mesmo. Poucos minutos depois dessa bifurcação existe uma descida bem forte em frente que vai sair em um pequeno vale, numa espécie de grota, que em épocas de chuvas intensas deve virar um riacho. Do lado esquerdo existe uma trilha, mas não é a correta. Seguindo para a direita, poucos metros a frente, encontramos uma enorme árvore caída com algumas bifurcações. Nesse ponto a gente se perdeu da trilha. O Rogério tentou de várias maneiras fazer com que o GPS pegasse alguns satélites p/ nos levar de volta a trilha. E nada. Perdemos algum tempo nisso até que conseguimos encontrar a trilha certa. Pulamos o tronco da arvore caído no meio da trilha e depois seguimos para a esquerda. De repente a trilha inicia uma pequena subida e mais a frente passa por uma grota bem nítida. Esse ponto de toda a trilha foi o mais difícil para a gente, pois é muito fácil pegar uma bifurcação errada por aqui. O que nos salvou aqui foi o GPS, por isso, tome-a como um ponto de referência. Depois da grota haverá algumas subidas e descidas bem leves e logo se chegará a um riacho que possui troncos de arvores p/ ajudar a atravessá-lo. Tome muito cuidado, pois alguns troncos estão podres, e se alguém cair aqui ficará com água até acima do joelho. Desde a bifurcação da árvore com a seta e as letras PF até esse riacho foram quase 1 hora e 20 minutos. Uns 3 minutos depois desse riacho haverá uma outra bifurcação à esquerda (que pode ser a trilha que vem do Hotel do Frade, que o Beck relatou na sua revista). Nessa bifurcação estava amarrado junto a uma pequena árvore uma sacolinha plástica, servindo p/ marcar a bifurcação. Seguindo em frente, não entrando na bifurcação da esquerda, logo a trilha passa a ser feita em um leito de um pequeno riacho. Como tinha chovido bastante, pode ser que em épocas secas não exista o riacho. De vez em qdo um pequeno rio aparecia do lado esquerdo da trilha.
E depois de mais ou menos 1 hora e 30 minutos desde a bifurcação da árvore com PF chega-se na Gruta, bem à esquerda. Ela é enorme, mas o piso é bem irregular, por isso quem quiser acampar aqui, só se for do lado de fora. Aqui é o ultimo ponto de água. Fora da gruta existe um pequeno descampado onde dá para montar algumas barracas, mas um pouco desconfortável. Quando chegamos aqui, a chuva deu uma diminuída, mas não parava de cair. Enchemos nossos cantis e resolvemos seguir em frente. Seguindo por uns 20 metros pela trilha existe uma bifurcação de um angulo de 90 graus à esquerda, que inicia uma subida bem íngreme. Logo que se entra nessa bifurcação caminhando poucos metros, haverá uma outra p/ a esquerda, logo à frente. A trilha correta é a da direita. Seguindo nessa bifurcação da direita, procure poupar seu fôlego, porque daqui para frente a subida é bem íngreme. A trilha vai subindo, passando ao lado de enormes matacões (pedras) e alguns pequenos abrigos.
Até o mirante, de onde se tem a visão da Pedra do Frade e todo o litoral de Angra são pouco mais de 40 minutos. Quando chegamos aqui o litoral estava quase todo encoberto e somente uma parte da Pedra do Frade dava-se p/ se ver. Desse mirante até a base da Pedra foram mais uns 15 minutos, onde se chega pelo lado direito dela. Logo que chegamos na base, por volta das 17:00 horas, já procuramos algum lugar p/ montar as barracas, porque a chuva não dava trégua. Encontramos um grande espaço, encostado na Pedra, onde não chovia. Aparentemente o local estava seco e parecia ser um lugar perfeito para nos abrigar e montar nossas barracas. Estávamos errados. Logo o final da tarde chegou e começou a escurecer. E de dentro das barracas já podíamos ver a noite estrelada, o que nos deixou radiantes de alegria, pois planejávamos subir a Pedra até o topo antes do amanhecer p/ ver o nascer do Sol. Ficamos conversando por um bom tempo ainda fora das barracas e depois cada um foi fazer a sua comida e em seguida fomos dormir pensando no Domingo maravilhoso que ia ter no dia seguinte, mas por volta das 2 horas da madrugada eu notei q embaixo da barraca, em que eu e a Marcia estávamos, passava um pequeno filete de água. Saí para fora e vi que a chuva tinha retornado. Tentei abrir uma canaleta em volta da barraca para a água da chuva escoar. Conforme a chuva ia aumentando a canaleta em volta da barraca já não dava mais conta e para piorar ainda mais, o lugar onde estávamos era fechado e não havia lugar para a água escorrer. Não ia demorar muito e todo aquele lugar iria virar uma piscina. A barraca do Rogério, que estava na parte mais baixa foi a primeira a se encher de água. Ele tirou a principais coisas de dentro da barraca e a deixou flutuando na água e foi tentar dormir em cima de uma pedra, onde não estava chovendo. A barraca que eu e a Marcia estávamos até tentei levar para um parte mais alta, mas cedo ou tarde iria ficar alagada também. A única que ficou totalmente livre da chuva e sem alagar foi a do Maurício e logo que a água começou a invadir a nossa barraca, o Maurício nos chamou para ficarmos na dele e tentarmos dormir o resto da madrugada. Era uma pequena barraca, mas deu p/ caber nós três, apesar q desconfortavelmente. Como a chuva não parava de cair, nossos planos para subir a Pedra já tinham ido para água abaixo e o Maurício decidiu que as 08:00 ele desmontaria a barraca e desceria para Angra, pois teria que trabalhar no dia seguinte, na Segunda-feira. Eu e a Marcia, até pretendíamos ficar, mas como a chuva não parava e o grupo iria se separar, resolvemos seguir o Maurício e o Rogério na descida. Quando saímos, as 09:30 hrs, o lugar onde tínhamos montado nossas barracas estava com água até os joelhos. Estávamos frustados, por chegarmos tão perto do topo e a chuva nos impedir, mas era muito arriscado se separarmos do grupo e também porque não tínhamos as coordenadas GPS da trilha de descida. Ia ser um desafio dali p/ frente.
No retorno, a chuva deu uma pequena trégua por um tempo, por isso paramos um tempo na Gruta p/ comermos alguma coisa e depois seguimos em frente. Não tivemos problemas para encontrar a trilha de volta e paramos várias vezes p/ descansar, porque a chuva tinha aumentado em muito o peso das mochilas. Da base da Pedra até a bifurcação da trilha para o bairro do Perequê levamos quase 3 horas, chegando lá por volta das 12:30 hrs. A trilha inicialmente segue por pequenas descidas e subidas, sendo que a descida mais íngreme se inicia depois de mais ou menos 1 hora. A trilha é bem demarcada com verdadeiras voçorocas em certos lugares e pegadas de cavalos ou mulas, porque é muito usada por palmiteiros que levam o palmito serra abaixo, nos ombro de mulas ou cavalos. No final dela, onde há uma plantação de bananas, existem várias bifurcações que levam a pequenos sítios e nos perdemos em algumas delas e com o Maurício que estava mais à frente, acabamos nos separando dele. Em uma das tantas bifurcações, eu, o Rogério e a Marcia pedimos informação em uma pequena casa. Era um senhor de idade que nos indicou o caminho certo até o final da trilha, junto a estrada de terra que leva ao bairro do Perequê. Quem já fez a Travessia da Serra da Bocaina ou Trilha do Ouro, saindo de São José do Barreiro conhece muito bem essa estrada. Para não ter dificuldades, o ideal é pedir informações em um dos vários sítios que existem por lá, ou assim que se chegar nas plantações de bananas, seguir nas bifurcações sempre para a direita, passando por cercas de arames. O nosso erro foi que pensávamos que um rio que estava à esquerda da trilha fosse o Mambucaba e por isso sempre íamos para a esquerda, mas a trilha correta é seguindo para a direita.
Fomos chegar na estrada por volta das 18:00 hrs, já no escuro e sem o Maurício. Lá ficamos aguardando passar algum carro para nos dar uma carona até a Rodovia, o que acabou acontecendo logo e lá o Rogério tomou um ônibus de volta para o Rio e eu e a Marcia ficamos em uma pousada, junto a Rodovia, para no dia seguinte irmos para Paraty. Fomos saber depois que o Maurício tinha se perdido e não encontrou a trilha correta, já que tinha anoitecido rapidamente. Então ele resolveu montar a barraca dele próximo do sitio onde tínhamos pedido informação e terminou a trilha no bairro do Perequê no dia seguinte (Segunda-feira) de manha para depois retornar para São Paulo. Eu e a Marcia pretendíamos fazer a Travessia da Joatinga, mas se chegássemos no Domingo à tarde em Paraty, o que acabou não acontecendo, mas mesmo assim resolvemos ficar em Paraty para aproveitar os 2 últimos dias de folga que eu e a Marcia tínhamos.
Atenção a quem quiser fazer essa trilha deve seguir a risca o relato e os croquis, porque a trilha é muito dificil.
Os tempos do croqui não consideram as paradas, já os tempos com as paradas são a do relato.