7:00 da manhã de domingo e eu pensava onde ou o que estariam fazendo a maioria das pessoas que eu conheço. Provavelmente dormindo naquela manhã chuvosa. Era divertido pensar nisso enquanto me dava conta da minha situação: 13 horas de corrida e atravessávamos um lago a nado enquanto chovia forte com pingos grossos que respingavam ao bater na água. Este lago parecia um cenário pré histórico com pontas enegrecidas de troncos que um dia já haviam sido árvores e agora, inundadas, saiam da água apontando para o céu.
Treze horas atrás estávamos largando a toda no sábado na simpática praça de Tinguá, depois de algum nervosismo e ansiedade inicial.
Analisávamos a possibilidade de cruzar uma propriedade para cortar caminho, mas desistimos da idéia pois seria arriscado criar confusão com os moradores e perdermos mais tempo do que pelo caminho sugerido no briefing.
Mas, minutos depois da largada, pedalávamos a toda para nos mantermos na frente da multidão, quando a bolsa do quadro de Luizão, onde ele guardava as ferramentas da bike, arrebentou, nos desviando a atenção para este problema. Mais a frente, algum atleta levava um tombo, deixando a roda da sua bicicleta no formato de um oito e levando alguns outros, que vinham atrás, pro chão também. Depois perdemos o contato visual com os integrantes de nossa equipe – era uma multidão de gente vestida com calças de lycra preta e mochila igual. Isso tudo, aliado à falta do meu ciclocomputador, que foi danificado no transporte, nos confundiu, fazendo-nos perder um tempo precioso no início. Mas não estávamos sozinhos, um bando de equipes também batia cabeça por ruas sem saídas ou subindo estradas íngremes que não chegavam a lugar algum.
Ignoramos os adversários e resolvemos voltar para acertar o caminho.
Vínhamos agora com mais calma e atenção no mapa quando entendemos o caminho. À nossa frente, um morro bem íngreme com uma faixa de floresta careca, onde havia um oleoduto enterrado e que servia de caminho para as equipes passarem.
Neste momento provavelmente éramos os últimos da corrida, mas logo ultrapassamos duas equipes, que empurravam suas bikes com dificuldade morro acima. Subíamos mais rápido porque trazíamos as bicicletas nas costas como se fossem mochilas. Luizão chegou primeiro ao cume do morro e voltou sem sua bike pra ajudar Mônica que ainda não havia chegado à metade da subida.
A descida do outro lado foi rápida, mas cautelosa, pois à esquerda havia uma cerca de arame farpado e à direita, uma vala de concreto.
Chegávamos então ao Posto de Controle 1, onde nossa equipe de apoio nos aguardava com informações de que estávamos em oitavo. Neste posto não demoramos muito e o susto inicial me fez repensar rapidamente nossa estratégia atual e ao invés de ir com o Luizão para a etapa de canoagem, achei melhor continuar na bicicleta com a Mônica, pois a orientação à noite poderia trazer algumas outras surpresas. Vini colocou seu colete salva-vidas e eu tirei o meu. Partimos desta vez separados em duplas, uma rio abaixo e outra, em cima das bikes.
Cai a Noite
Logo escureceu e eu pedalava com Mônica rumo ao PC 2 para encontrar minha dupla que passaria rio abaixo de caiaque, a equipe só poderia sair deste PC junta. Cortamos um pedaço do caminho atravessando um pequeno córrego e chegamos na beirada do rio, onde algumas equipes aguardavam também suas duplas de caiaque. Fiquei um pouco decepcionado pois imaginei que Vini e Luizão já estariam lá, mas tivemos que esperar por eles. Assinei a ficha do PC e aguardei. Passou uma equipe e gritei “Trilha & Cia” pra ver se respondiam. Não eram eles. Minha pequena angústia terminou poucos minutos depois quando distingui os dois surgindo remando da escuridão e os gritos com o nome da nossa equipe confirmaram que eu e Mônica já podíamos partir.
Luizão e Vini continuaram rio abaixo e eu e Mônica desembestamos com as bikes. Eu pedalava e sentia a bike ir ficando pesada, pesada , até que perguntei à Monica se meu pneu havia furado. A pergunta foi respondida afirmativamente para meu desgosto. Por causa da mudança de planos, nos esquecemos de levar câmaras de ar sobressalentes na mochila ou ferramentas para trocar o pneu. Mônica ofereceu me rebocar, mas não tínhamos levados estirantes ou cabos para reboque e bem ou mal eu conseguia manter uma velocidade de passeio usando a marcha mais leve. O trecho que pedalávamos era plano com quase nenhuma subida, apenas com alguns buracos e lama na estrada e continuamos até o próximo PC. Eu lembro de ter olhado uma bicicleta Barra Forte parada na pequena pracinha onde estava o PC e imaginar alguma forma de trocar minha roda com a dela, mas logo afastei essa idéia da cabeça. Tão improvável quanto a minha, foi a idéia de Mônica. Ela ainda perguntou ao PC se havia algum borracheiro por perto… O jeito foi aceitarmos que precisaríamos pedalar mais um trecho até o próximo PC, o quarto, onde encontraríamos nossa dupla do caiaque e nossa equipe de apoio.
Começamos a cruzar com equipes carregando caiaques no meio da estrada e vi que estávamos nos aproximando. Erramos um pouco a entrada mas enfim chegamos onde estavam nossos amigos. O lugar estava parecendo uma festa rave ou acampamento de show, com vários carros parados iluminando o gramado com seus faróis. O PC ficava numa tendinha branca e assinei o horário de chegada. Ali contamos nossa estória e partimos pro bike and run. Agora seriam somente duas bicicletas para quatro.
Nesta modalidade, pode se botar dois correndo ou carregá-los na garupa das bikes. De início foram Luizão e Mônica de bike e eu e Vini correndo. Enquanto as bikes faziam uma volta para seguir a trilha, eu e Vini cortávamos caminho por uma pasto para reencontrá-los mais a frente. Agora íamos beirando o rio onde o pessoal do caiaque terminou a canoagem, e procurávamos a referência “pinguela” para encontrar o PC. Avistei o PC na outra margem e me aproximei da margem do rio procurando algum local que pudesse cruzá-lo pela água mesmo, mas não precisou, chegamos numa ponte suspensa com cordas e madeiras e atravessamos a pinguela balançante.
O próximo PC nos permitia um atalho que pouparia uma volta grande de acordo com o mapa e combinamos que eu e Vini cruzariamos aquele trecho de baixada rumo a estrada do outro lado. Luizão e Mônica continuaram pela estrada contornando alguns morros para nos encontrar do outro lado.
Minha primeira providência foi procurar uma trilha pisada para que pudéssemos ter certeza de que caminhávamos pelo caminho mais curto ou mais fácil ao invés de ficar brigando com o mato. Me afastei um pouco pra esquerda pra descobrir que eu me encontrava até as canelas num charco pantanoso e fedido. Tentei dar um passo, mas o pé preso não desgrudou da lama, me desequilibrei e cai sentado naquele laguinho fétido. Levantou uma mosquitada e senti a água gelada na bunda. Devo ter amaldiçoado quando estava apenas com as canelas, pois aquilo parecia estar me mostrando que sempre pode ficar pior. Pensando assim, me conformei com a situação e sai do charco engatinhando mesmo pra achar a picada mais a direita de onde estávamos.
Mesmo na trilha, as vezes chegávamos em trechos onde era preciso cruzar outros charcos nos equilibrando em troncos atolados na lama. Vini desequilibrou algumas vezes e também chafurdou o pé na lama, resmungando aquela rabugice lamentosa que lhe é comum. No ínicio fiquei imaginando se seria vantagem termos vindo os quatro mais as bikes pelo atalho também, mas nestes trechos teria ficado um pouco complicado. Chegamos do outro lado e sentamos para esperar a dupla de bike. Teriam se perdido? Aqueles momentos de espera era sempre angustiantes. Não poderíamos ter tido tanta vantagem assim a pé.
Atalhos
Decidimos que seria melhor eu e Vini continuarmos cortando caminho, desta vez cruzando o morro ao lado da estrada, mas subiríamos até o topo e esperaríamos a dupla de bike para que eles soubessem que decidimos continuar cruzando o caminho. Passou uma equipe mas não eram eles, continuamos subindo e antes de alcançar o cume do morro, Luizão e Mônica passaram e os gritamos. Explicamos mais essa rápida mudança de planos e eles xingaram um pouco pois poderiam ter ido direto ao PC ao invés de entrar ali pra nos encontrar. De qualquer forma, não perdemos muito tempo os esperando e eles também chegariam primeiro mesmo indo e voltando. Continuamos cada qual pra um lado.
A descida foi mole, aquele era mais um daqueles caminhos de oleodutos subterrâneos, não havia erro e depois de mais algumas pontes improvisadas sobre charcos, chegamos a uma estradinha de terra, onde eu e Vini mantivemos um ritmo leve de corrida até o PC, onde nossos ciclistas nos esperavam.
De acordo com nosso planejamento inicial, usaríamos minha bike e a de Luizão, que têm os quadros maiores ou bagageiros para carregar os outros dois competidores, mas minha bike ficara com o apoio para a troca de pneu e não sei porque não trouxemos a bike reserva de Rafael, agora somente um poderia ir na garupa. Eu poderia voltar correndo com a Mônica pelo mesmo local que eu vim com o Vini, mas na hora achei que seria melhor se pudesse poupá-la e insisti para que ela fosse na garupa com Luizão enquanto eu poderia ir mais rápido pelo atalho.
Mônica não gostou muito da idéia, mas assim nós fomos, três de bike pela estrada e eu correndo um pouco mais forte para o morro. Subi-o com ritmo forte, sem parar, e achei que tomei a decisão mais acertada, já que Mônica sentiu um pouco em algumas subidas em Búzios. Mas no alto do morro, parei pra olhar o mapa e tive um estalo ao ver as luzes do PC e dos carros do apoio lá longe. Poderia eu cortar tudo até lá, evitando inclusive o desvio até a pinguela? Xinguei um pouco pois seguindo essa estratégia eu não precisaria ter subido o morro, bastando contorná-lo pela estrada, mas tudo bem, já estava ali mesmo…
Desci voado, catando cavaco e peguei a estrada pra esquerda, passei pelo caminho por onde eu provavelmente viria se tivesse contornado o morro, o achei meio confuso e continuei até achar uma porteira à direita. Seguindo minha direção traçada, adentrei naquilo que parecia ser uma fazenda. Passei por algumas casas, agora eu parecia estar em uma vila. Estava bem atento quanto à cães que pudessem estar ali soltos. Cruzei uma estrada e cheguei num pasto, continuei indo na direção do PC até chegar numa cerca de arame farpado, do outro lado, uma vegetação fechada e fiquei com medo de perder muito tempo cruzando aquilo. Vim beirando o arame farpado até achar uma quina e avancei rumo a vegetação que provavelmente seria um tipo de mata ciliar. O rio devia estar logo ali. Logo eu me encontrava brigando com os espinhos e galhos sem conseguir ver mais do que um palmo no mato alto e fechado, me ofuscando com o reflexo da luz da minha lanterna. De repente, o chão faltou aos meus pés e despenquei uns três metros ainda enrolado no mato. agradeci quando senti que parei de cair e quando consegui me desvencilhar na vegetação, percebi que estava na margem do rio. Seria ele fundo naquele ponto? De qualquer forma, naquela altura do campeonato eu tinha que atravessá-lo de qualquer jeito. Comecei a caminhar torcendo para que ele continuasse a dar pé, pois também comecei a sentir um cheiro de esgoto na água. Não foi preciso nadar, mas a água veio até a barriga, o suficiente para que eu adquirisse aquele odor também.
Na outra margem, consegui um caminho pra subir o barranco e saí atrás de um morrote de uns três ou quatro metros de altura. Nem sinal de corrida, olhei o mapa, procurando onde seria aquele morro, já que eu deveria estar num pasto. Subi o morrinho correndo e logo de cara encontrei uma equipe passando pela minha frente na trilha que contornava o pasto. Fiquei muito feliz, o PC estava próximo. Estaria o pessoal das bikes já me esperando lá? Enquanto a equipe que passou por mim estava lá na curva da trilha que contornava o pasto, comecei a correr cortando em linha reta e os alcancei mais a frente. Lembro de ainda ter perguntado se eles estavam indo para o PC 7, mas ninguém respondeu. Então eu soube que sim!
Quando chegui no PC somente meu apoio lá se encontrava e fiquei surpreso. Lanchei e tomei gatorade enquanto esperava o resto. Alguns minutos depois chegaram Luizão, Vini e Mônica xingando, pois teve que correr a maior parte do tempo nas estradas esburacadas que não permitiam a garupa. Penso que de qualquer forma ela correu no plano, sem espinhos, tombos e o maldito esgoto que agora fedia tanto que eu não aguentava meu próprio cheiro. Nem o povo em volta.
Mais problemas
O próximo trecho seria Mountain Bike para todos e foi muito bom poder pedalar na minha bike outra vez com o pneu cheio. Tínhamos mais uns três postos de controle antes de encontrar nossa equipe de apoio outra vez no PC 11. O primeiro que passamos nos informou que o próximo PC havia sido cancelado e nos informou as coordenadas do PC 10, que não estava marcado no mapa. Neste trecho aconteceu mais um pouco de imprevistos, tombo, bancos afrouxando, pastilha de freio caindo e corrente arrebentando. A do Vini. Nesta troca devemos ter perdido uns 15 minutos e me lembro de ter deitado na estrada e tentado dormir um pouco mas não consegui. Graças a Luizão, que trouxe o saca-pino, pudemos continuar até encontrar nosso apoio no Posto de Controle da Fazenda Faísca.
No PC 10 encontramos a equipe masculina de Nova Iguaçu que contava com a participação do prefeito Lindemberg Farias e que estavam sempre próximo da nossa equipe. Eles estavam com problemas, pois a rosca de um pedal havia espanado e Lindemberg, nos vendo, disse: “É, agora vocês passam a gente de vez”
Eu e Luizão ainda demos força para que terminassem a prova sugerindo que amarrasem o pé no pedal que sobrara para que um mesmo pé empurrasse e puxasse ou que rebocassem a bike com problemas e parece que o pessoal se animou em continuar.
Neste PC, Luizão e Vini partiram para fazer a atividade surpresa, que era um ascenção por uma escada de cordas numa cachoeira. Vini não viu a escada e começou a subir na unha, mas depois foi avisado pelo cara da segurança.
Na volta dos dois começaríamos um trecho de trekking e troquei minhas meias que estavam molhadas. Também tirei o silver tape que funcionava como curativo no mindinho do meu pé, mas que começava a provocar bolhas. Mônica fez um curativo no ante-braço com gazes e silver tape, por causa de um tombo de bike que ela levara. Agora ela ficara parecendo um ciborg com o antebraço metálico do cotovelo até o pulso e começamos a chama-la de robocop.
Nos despedimos do apoio e partimos pro trekking. logo na saída da fazenda havia uma porteira à direita e o caminho cruzava um pequeno rio – minhas meias duraram muito pouco tempo secas -, neste ponto, acredito que muitas equipes passaram direto. O tempo inteiro nós subíamos e em determinado momento paramos para esperar Mônica, que chegou com lágrimas dizendo que torcera o tornozelo. Aquilo me atingiu como um soco, a possibilidade de abandonarmos a prova estava muito próxima. Continuamos subindo, Mônica usava os dois bastões, quase que como muletas e mancava muito forte. Em determinado momento, a equipe do prefeito passou descendo e não entendemos nada, só podiam estar perdidos. Finalmente chegamos na casa onde deveria ser o PC no mapa. E nada, parecia abandonada. Começamos a gritar pelo PC e momentos depois um homem com pinta de morador local veio a porta com cara de sono trazendo a planilha para assinarmos. Continuamos até chegar numa estrada onde procurávamos um caminho à direita que nos levaria até um lago, mas chegamos numa curva onde encontramos duas equipes perdidas. O dia tinha amanhecido e tinha equipe procurando o PC dorminhoco da casinha ainda. Seguimos até nos dar conta de que também já devíamos ter passado do ponto de entrada. Encontramos um senhor na estrada e tentamos nos informar, mas parece que conhecíamos a região mais do que ele, sem contar que ele tava exalando um odor de alcool que não trazia muita credibilidade às suas informações. Resolvemos voltar para refazer o caminho e descobrimos a entrada. Parecia uma porteira de fazenda e entramos como quem entra na casa de alguém. Agora, com a luz do dia, a navegação seria um pouco mais fácil. Seguimos por uma trilha que encontrava um rio. Tínhamos que descer o rio caminhando pelas pedras escorregadias até o lago, que atravessaríamos nadando. Aquele trecho foi muito sofrido para Mônica, que resolveu tomar um comprimido de Tandrilax, comprado por Vinicius. Quando cheguei no lago, ainda vi a equipe da frente iniciando a natação.
Meus companheiros se aproximaram e logo nós também estavamos nadando. A equipe da frente se distanciou rapidamente, deviam estar de pés de pato e continuamos no nosso ritmo mais lento. O lago só era possível ser atravessado pelo meio mesmo, já que a vegetação densa avançava até a água nas margens. Nesse momento a chuva caiu bem forte.
Ao sair do outro lado me espantei com o peso da minha mochila e infelizmente constatei que a vedação com filme de pvc que fiz embalando a corda que eu levava não funcionara e ela estava totalmente encharcada pesando horrores, perdi alguns minutos drenando a água da minha bagagem e continuamos pela estrada.
O Motim
Agora precisávamos achar uma trilha que começava no fim d uma grande enseada de pasto avançando pela mata. Avistamos uma equipe uns cinquenta metros à nossa frente que sumiu no mato. Continuamos procurando pela trilha e encontramos o local onde a equipe da frente entrou, era um caminho bem largo e pisoteado que ia se transformando em vala e continuamos assim mesmo por aquele caminho de água. O caminho ia ficando cada vez mais íngreme e fechado até que encontramos a equipe parada mais a esquerda, pois o mato fechava o caminho principal. Desviei um pouco pela direita e continuei mais a frente e a outra equipe veio atrás. Até que por fim, o mato fechou d vez. Verifiquei no mapa que a direção q este caminho tomava não era o mesmo que seguíamos e desconfiei de alguma bifurcação no início que pudéssemos ter perdido e descemos tudo. Encontramos a outra equipe sentada na borda da mata e fui beirando a vegetação, procurando uma outra entrada. Observando o relevo e essa vegetação ao redor, me posicionei bem no local onde deveria existir a trilha e ao olhar pra trás descobri a própria com a entrada muito camuflada pelo arame farpado, mato e o início em zigue-zague sem rastro definido, mas bem marcada posteriormente. Chamei meus companheiros discretamente, mas acabamos guiando a outra equipe e mais uma q apareceu e também avistou a entrada correta.
Mais a frente, ao terminar a trilha, chegamos num grande descampado e tive dificuldades com meu mapa que desmanchava por causa de uma dobra e umidade no local que nos encontrávamos e acabamos pegando uma direção contrária, tentando chegar em uma estrada do outro lado da baixada. Tentei atravessar direto e era tudo charco. Imaginei que o caminho pudesse ser pra direita e resolvemos voltar um trecho quando vimos as duas equipes chegando no local q nos encontrávamos e pegando a direção que eu iria tentar. Luizão ficou um pouco afobado com a presença das outras equipes, quis cortar em linha reta para a estrada e saiu na frente com Monica, Vini e eu logo atrás. De um estalo, pedi pra galera parar e pensar um pouco, dei uma olhada no mapa e falei:
-Gente, a direção é aquela mesmo, temos que pegar a direita!
Com a certeza do caminho certo, me dirigi para o caminho que as outras equipes tomavam, subindo um morro, cortando reto para cima até encontrar uma trilhazinha. Esperei um pouco por minha equipe, mas não apareceram. Só faltava essa, apostava que os teimosos tinham seguido em frente, mas uma esperançazinha me fazia esperar alguns instantes. Uma das equipes começou a me alcançar e decidi seguir para o PC assim mesmo. No alto do morro, comecei a descer pra dentro de um valezinho que parecia ter saído das estórias de criança. Eram vários morros verdinhos que rodeavam um laguinho bem simpático. Passei por aquela cena e já avistei a casa onde se encontrava o PC. fui obrigado a esperar meus amigos ainda por uns dez minutos e aproveitei para tirar a areia do meu tênis e meias numa piscina natural ao lado da casa.
O resto da galera chegou com cara de cachorro que caiu da mudança, mas Luizão teve uma idéia pra salvar um pouco do tempo perdido e após assinar o PC, voltamos pelo mesmo local d onde eu chegara enquanto as outras equipes se dirigiam para a direção de onde minha equipe amotinada chegara. Subimos o morro de novo e descemos na baixada, pegando uma trilhazinha rumo à estrada onde passava a equipe que estava na nossa frente. Nesse momento, fiquei atrás deles uns vinte metros e quando apertávamos o passo, eles também tentavam manter a vantagem. Parecia corrida d caracol. Mas não dava pra eu atacar mais forte pois nossa equipe estava espalhada e os últimos estavam bem atrás.
Seguimos até o último PC onde encontraríamos nosso apoio e lá estavam eles ainda na Fazenda Faísca com nossas bikes. A categoria aventura largara as sete da manhã e começávamos a ver atletas com a camisa amarela dessa categoria nos trechos que passávamos. No PC, paramos por um tempo considerável, nosso objetivo principal era passar no PC 17 até as 11 e meia, horário d corte da corrida, a partir desses horário as equipes que passassem neste PC se dirigiriam diretamente para a chegada. Eram dez e meia da manhã de domingo e tínhamos uma hora pra percorrer uns três quilômetros d bike, parecia tempo de sobra e comemos miojo, refizemos curativos, contamos as estorias até que LH começou a nos expulsar. Ainda precisei de alguns minutos para usar o banheiro da fazenda antes de irmos embora. As informações de nossa colocação eram confusas e quando partimos tínhamos pouco mais de meia hora pra chegar no PC de corte. Isso mesmo, ficamos quase meia hora com o apoio.
Descemos a ladeira em frente à fazenda e passamos as bikes por uma cerca de arame farpado e em seguida subimos o morro do outro lado carregando as bikes nas costas por uma trilha erodida. Quando chegamos na crista, encontramos um caminho mais largo por onde era possível pedalar. Ainda tentei subir pedalando mas o cansaço começava a aparecer. Eu olhava no relógio de minuto em minuto.
Correndo contra o tempo
Não era possível, depois de tudo que passamos, sofrermos agora esse corte. As equipes cortadas são classificadas após as equipes que completam toda a prova. Pensando nisso, olhando os vinte minutos que faltavam, tentei dar mais umas pedaladas e subi na bike. Só consegui dar três. Continuei empurrando. O corpo não doía, fisgava ou queimava. Simplesmente não tinha forças, estava mole. Se fosse no início da corrida eu subiria tudo pedalando. A esperança é que Luizão estava mais na frente e pudesse chegar no PC no tempo, ou que o PC tolerasse alguns minutinhos. Vini que vinha atrás de mim uns 15 ou 20 metros começou:
-Essa subida que não acaba mais! – Lamentava, perdendo a paciência.
Eu não podia ajudar a ele nem a Mônica que vinha mais distante, primeiro porque eu mesmo estava no limite, segundo porque não tínhamos estirante para reboque e terceiro porque era eu que precisava assinar o PC. Avisei ao Vini que continuaria sem parar e que era pra eles entrarem na primeira à esquerda depois do subidão.
Depois da curva tinha mais subida.
Até que chegamos no PC 17. Luizão, cinco minutos antes de mim, e eu no horário cravado: 11:30. Mas lá, recebia a notícia da prorrogação do tempo de corte para meio-dia.
De lá seguimos a pé para o PC do rapel, eu e Luizão nos preparamos e aguardamos duas duplas que estavam na nossa frente. Mônica e Vini foram nos esperar na base da cachoeira e finalmente seguimos para o topo. A organização recomendava que atletas com mais experiência fizessem o rapel pois a cachoeira onde desceríamos era muito escorregadia. E era mesmo, parecia sabão. Descemos lentamente. Na base, encontrei fazendo minha segurança o Pedro Bugim, do Centro Excursionista Brasileiro, que viajara comigo para Serra do Cipó e nos falamos rapidamente.
Participamos de uma tomada de cena para a Niterói TV enquanto iniciávamos o próximo trecho, o canionismo. Mônica estava bem melhor, provavelmente ainda por causa dos efeitos do Tandrilax e se deslocava mais facilmente por entre as pedras escorregadias do rio. Procurávamos agora uma frase, placa ou dica escondida num trecho do rio. Este era o PC virtual, uma senha que se guarda para dizer no próximo PC, provando que você passou realmente por aquele ponto. Pedi a Vini que contasse os passos, uma difícil tarefa num terreno tão irregular como aquele. Nós não caminhávamos, escorregávamos, descíamos de bunda, tropeçávamos. Descobri que estávamos num rio menor e havia um rio mais largo descendo paralelamente à esquerda. Começou a confusão, de acordo com o mapa só haveria uma bifurcação mais abaixo, resolvi subir pelo rio mais largo pra ver se não havia alguma placa e verifiquei que a bifurcação fora logo no início, não podia ser a mesma do mapa. Chamei a galera e continuamos pelo rio mais largo até que avistamos uma faixa de vinil com aspecto de nova, amarrada de lado a lado do rio com os dizeres: “Reserva Biológica do Tinguá”.
Porra, seria o PC virtual ou alguma indicação de que entrávamos na reserva? Sua localização não condizia com o mapa, onde ela estaria posicionada após uma bifurcação. Continuamos mais um pouco procurando a tal bifurcação no rio e alguns metros abaixo a encontramos. A distância no mapa batia com a distância aferida por Vini e pegamos o braço esquerdo ainda na esperança de encontrara o tal PC, mas depois de muito descer e até encontrar equipes subindo, decidimos apostar na faixa laranja e saímos do rio, rasgando um pouco de mato até sair numa casa ao lado da estrada. Corremos para o PC onde estava nossas bikes, este agora seria o vigésimo e último PC antes da chegada. Bastava descer a toda o ladeirão que penamos na subida e que agora se tranformaria num veloz trecho de downhill.
Assim fomos, com as mãos queimando com a trepidação do guidon e pressão constante nos freios naquela descida que, como a subida, não acabava nunca! Desviei de uma equipe que subia e caí numa valeta, perdendo um pouco o controle da bike e sendo obrigado a pular por cima do guidon. Não dava pra marcar bobeira, o caminho parecia uma estrada, mas era cheio de trilhas paralelas mais fundas, ótimas pra provocar tombos. À direita uma carreira de pedras de granito com quinas afiadas e pontudas e à esquerda uma cerca de arame farpado impedia de rolar barranco abaixo.
Pra mim, o downhill é uma espécie de recompensa pela subida martirizante e, talvez pelo risco ou pela concentração e reflexo necessários, é um momento que me traz muito prazer. Chegamos os três lá embaixo e aguardamos um pouco Mônica que descia mais cautelosamente com a bike de Rafael que ela não estava acostumada.
Reta final de chegada, pegamos a estrada e seguimos rumo à praça de Tinguá. No caminho senhoras perguntavam para se certificarem dos comentários que estavam rolando pela cidade:
-Gente, vocês estão nisso aí desde ontem?
Sugeri ao pessoal que nos juntássemos um pouco mais pra chegarmos na linha de chegada juntos, mas um ônibus cruzando a estrada nos separou um pouco. Nada que nos impedisse de comemorarmos o término de nossa corrida junto nossos amigos que nos ajudaram no apoio.
Colocação final: 4° lugar.