Caminho da Luz de Bike

Era uma quarta-feira 20 de abril, véspera do feriado de Tiradentes. Fui na rodoviária comprar passagem para Tombos – MG, porem não tinha mais. A cidade mais próxima que teria vaga era para Carangola – MG, então comprei duas passagens para mim e Xanda. Chegamos em Carangola as 6:30 h da matina de quinta-feira, fui me informar sobre o ônibus que iria até Tombos – cidade onde inicia-se o Caminho da Luz, mas havia saído um as seis e só teria outro as nove. Nesse exato momento começava a aventura. Perguntei para o funcionário da Viação Real, responsável pelo trajeto:

– São quantos quilômetros de Carangola até Tombos?

Ele disse: – 25, de asfalto.

Falei com a Xandoca e ela topou irmos pedalando, tomamos café e partimos às 07:30 e chegamos em Tombos às 9:15.

Já em Tombos fomos conhecer a Hidroelétrica, que é exatamente onde começa o caminho. No acesso até ela não dá para pedalar, pois tem que subir um morrinho cheio de pedras, logo, empurramos as bikes e, na descida, tinha alguns pequenos postes de luz. Num desses, prendemos as bicicletas e levamos todas as bagagens conosco.                     

Depois de conhecer a cachoeira, tivemos que voltar até o centro de Tombos e lá pegar a estrada de chão para Catuné. Já eram 11 h. Pegamos muito sol e poeira na cabeça, os últimos 5 km eram só de subida, chegamos lá 14 h e fui logo perguntando quem na cidade que fazia almoço para caminhantes, acabei parando na casa de Dona Rosa que logo preparou um belo rango pra gente.

Logo depois do almoço das 15 h perguntei como fazia para ir à Gruta Santa já que pegamos um caminho para ciclistas que vai direto pela estrada. Xanda não quis ir e eu não pensei duas vezes para pegar a bike dela que estava bem mais leve, pois não tinha bagagens. Peguei a estrada e logo vem uma porteira à direita com a seta amarela do caminho, era uma trilha que não dava para pedalar e só subia. Subi tudo com a bicicleta nas costas, passei cafezal, riacho, até pegar a estrada de novo e sair numa subidona que chegava até a gruta. Tirei algumas fotos e para ir embora havia uma estrada que não dava nem 2 km até Catuné. Cheguei na Dona Rosa antes das 17 h. Foi o tempo de pegar o carimbo da cidade e logo começou a chover. Resolvemos passar a noite lá mesmo.

 

 

Na sexta de manhã partimos para Pedra Dourada às 8:15 h chegamos lá às 11:30 h, nesse caminho tem um morro chamado Alto do Lombo do Burro, é uma subida grande como o nome. Também depois é só descida, que numa dessas, Xanda caiu, ralando um pouco e ficando com a coxa esquerda roxa. Passamos pela cidade Água Santa e logo depois Pedra Dourada. Almoçamos na Dona Ana, peguei o carimbo da cidade com ela, descansamos do almoço e às 13 h partimos para Faria Lemos, esse trecho tem algumas subidas e também a visão da grande Pedra Dourada que se vê por quase todo o percurso. No meio deste trajeto senti minha bicicleta derrapar um pouco de traseira verifiquei o pneu murcho, parei e calibrei-o com a bombinha manual e continuei a pedalar. Uns 5 min depois ele murchou de novo foi então que parei para trocar a câmara de ar, o que demorou uns 20 min.

Chegamos em Faria Lemos as 16:40 h fui logo perguntando como era a estrada para Carangola e os moradores falavam que era tranqüilo mas que tinha umas duas subidas de 1 km cada, queria continuar mas Xanda dizia estar no limite. Perguntei onde poderia jantar e me indicaram o restaurante Feijão sem Bicho, me conformei em ficar e fomos para o Hotel Ventura lá carimbei o mapa, tomamos banho e fomos jantar. No Restaurante encontramos um caminhante, Renato de Petrópolis, conversamos bastante e pegamos algumas dicas. A janta foi: arroz, feijão, fritas, salada e carne acebolada, um pouco pesado para quem pedala. Por isso naquela madrugada Xanda sentiu fortes dores no estômago e chegou a vomitar umas duas vezes. Fiquei preocupado e levei-a para o farmacêutico pela manhã, já que na cidade não havia hospital, o homem deu-lhe um medicamento e pediu que a ambulância nos levasse para Carangola – cidade mais próxima que tinha Hospital. Chegamos no pronto-socorro umas 9hs, Xanda tomou soro, remédio para dor e descansou um pouco. Depois disso saímos do hospital e fomos até a rodoviária de Carangola, lá Xanda tomou um iogurte e já estava melhor, foi então que perguntei:

– Você vai querer continuar?

Ela apenas balançou a cabeça para os lados dizendo que não.
Eu disse que queria continuar e fiz a seguinte proposta:

Ela iria até o Alto Caparaó de ônibus e me esperava lá numa pousada. Ela topou. Porém conforme esperávamos o ônibus ela ficava mais impaciente e perturbada foi então que ela disse que queria voltar para casa, fui verificar na rodoviária as passagens para o Rio e havia um buzu marcado para sair às 13 h, esperei junto com ela e aproveitei para cochilar um pouco, arrumei as bagagens e fiquei bem mais leve, separando apenas o que necessitaria para aquele dia e meio de pedalada que restava. Após as 13 h a pedalada seria solitária, parei num restaurante almocei e às 14hs estava partindo para Espera Feliz, no caminho encontrei Renato, o caminhante. Ele perguntou pela Xanda e expliquei o que havíamos decidido. Ele deu a seguinte dica:

Numa bifurcação mais à frente, ir pela serra, à esquerda, e não pela estação Ernestina à direita, pois economizaria 6kms. Continuei pedalando até chegar na tal bifurcação olhei para serra e subia demais e na estação Ernestina era plano porém bastante mato, resolvi ir pelo mato e não me arrependi, pois foi um pedalada na trilha show de bola.

Foram 11 km de trilha, onde passei por barrancos caídos, vacas assustadas, cavalos fugitivos, casas abandonadas e até um grande arco de pedra. Para mim acho que a melhor parte do Caminho da Luz. Chegando em Espera Feliz fui logo procurar um lava-jato pra tirar toda lama da bike.

Já no centro de Espera Feliz procurei o Hotel Vale Verde para obter o carimbo da cidade e logo depois fui jantar. Após a janta, descansava na rodoviária, que era perto do inicio da estrada para Caparaó, lembrei da passagem de volta para o Rio e fui procurar saber. De todas cidades que fazem parte da rota direta ao Rio (Carangola, Tombos, Espera Feliz e Manhumirim) tinha apenas quatro vagas de Espera Feliz para o Rio, mas o carinha disse que para o ônibus levar a bike eu teria que desmonta-la e colocá-la numa caixa igual a que vem de fábrica, desisti e fui arrumar a lanterna, prende-la em cima do capacete, pois iria pegar a estrada à noite para Caparaó. Peguei lua cheia e em alguns pontos nem precisava da minha luz e cheguei lá as 20:30 h.

Fui até a pousada do Casimiro reservei um quarto, logo depois passei no Bar do Daniel para pegar o carimbo da cidade. Acordei cedo, mas o café saiu tarde, parti de Caparaó chegando no Alto Caparaó às 9:30 h e fui até a pousada Serra Azul pegar o ultimo carimbo do Caminho da Luz. Saí da pousada direto para entrada do PNC. Cheguei lá às 11 h e recebi uma noticia que me desapontou:

– Não é permitido entrar no Parque com bicicletas e nem motos, e qualquer um destes veículos que forem encontrados dentro do PNC será apreendido.

Tirei algumas fotos e desci até a praça do Alto Caparaó onde me informei sobre ônibus e cidades próximas, decidi ir pedalando até o Alto Jequitibá, pois eram apenas 15 km e lá tinha ônibus direto para as principais cidades. Chegando lá fiz um pequeno lanchinho e fui aguardar o ônibus para Carangola, de repente passa um buzu que vinha de Juiz de Fora até Manhumirim, tive a ideia de ir para JF e de lá pegar um para o Rio. O Alto Jequitibá é uma cidade pequena que não tem rodoviária os ônibus passam numa rua perto da saída da cidade e as passagens são vendidas na padaria onde fiz o tal lanchinho. Perguntei:

– Ainda tem passagem para JF?

– Sim – A senhorita respondeu.

– Que horas e quanto custa?

-14:30 h e custa R$40,55.

Putz! Eu tinha apenas R$ 37,20, o caixa do Itaú mais próximo ficava a 45 km e a padaria não aceitava Rede Shop. Foi aí que perguntei com cara de triste:

– Será que R$3,00 vai fazer falta para você? Me ajuda aí!

Ela olhou atendeu uma freguesa, e chegou perto e deu uma passagem para mim e pegou os 37 reais. Foi então que consegui voltar pro Rio e chegar em casa as 1:30 h da matina.

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