Minha última ação foi manter à direita pra enfrentar as ondas maiores, já que no dia anterior eu fui pelo meio do rio. Só me lembro de ter descido o primeiro degrau e ficar de frente pra primeira onda, que parecia maior ainda do que ontem. Pensei novamente: Não vai dar! Agora vou virar!
E virei. Que sensação de impotência! Água batendo na cabeça, lutando em vão pra me manter fora d`água, mesmo em pé, quando submergia, meus pés não tocavam o fundo, eu tentava puxar a boia pra perto de mim pelo strap, esta virava e caia na minha cabeça, eu estava bebendo água pra diabo quando eu me dei conta que eu ali era apenas um pé de meia numa máquina de lavar.
Aventura no Ribeirão das Lajes
Aquele fim de semana foi ótimo, festinha junina tradicional com quadrilha, casamento na roça e música sertaneja ao vivo no sítio de LH. Encontro de amigos do Rio, JF e SP. Aprendi a andar na slack line – corda bamba… E super aventura no Ribeirão das Lages!!!!
Que perrengue! 🙂 Não lembrava que no rafting as ondas eram tão grandes! Vai ver é porque agente estava montado em boias bem menores do que a balsa de rafting…
Eu e Luizão compramos umas câmaras de ar de pneu de caminhão e amarramos em formato de bote, o chamado Boia-Cross, no sábado fomos inspecionar, ver se encontrávamos a entrada do rio e ver como é que era descer nas boias. Mônica, a princípio iria com a gente, mas quando viu a velocidade do rio logo na saída, achou melhor ver primeiro se eu e Luizão sobreviveríamos. Irresponsáveis, inconsequentes, imprudentes, miolo-moles que somos, eu e Luizão partimos nessa loucura por conta própria. Um pouco de consciência nos fez utilizar o equipamento de segurança completo. Capacete, colete, joelheira, caneleira, strap… Nos lançamos montados nas boias e logo tivemos que descobrir como controlar o pequeno bote para desviar de galhos na margem, após uma curva foram quase trinta minutos de um rio bem largo e tranquilo, mas que nos carregava num velocidade razoável. Aquilo era totalmente relaxante, bem diferente do que estava por vir.
Mais a frente vimos os carros com o nosso pessoal nos observando na lateral do rio e percebi que tínhamos chegado na primeira corredeira, a maior de todas. Luizão ia mais a frente distante de mim uns cinco metros e logo entrou nas ondas, eu vinha mais atrás me preparei agarrando nas alças laterais da boia. Desci o degrau que o rio formava e agora eu via a primeira onda de baixo, não me lembrava que era tão grande, devia ter um metro ou mais e a medida que fui me aproximando, achei que não fosse dar pra passar, eu ia virar! Mas não virei! Fiquei surpreso! Consegui passar! Controlava a direção da minha boia com os pés fazendo um leme ora com um lado e ora com outro, mas em certo momento vi mais a frente a boia de Luizão vazia e sua cabeça na água. Sua boia estava sem uma alça numa das laterais e ele não conseguiu se manter em cima. Não dava pra fazer nada a não ser tentar não cair.
Mas passamos desse ponto são e salvos e logo procuramos sair para a margem esquerda do rio, nadando bem forte pra sair da correnteza.
Nosso resgate nos esperava no acostamento da Via Dutra. Minha euforia não cabia dentro de mim. No dia seguinte faríamos o percurso do rafting inteiro, mais umas três ou quatro corredeiras…
Agora era voltar para o sítio a tempo de ensaiar a quadrilha!
MEDO
No sábado eu e Luizão admitimos que estávamos com medo de cair na água, mas eu nem imaginava o medo que eu sentiria no domingo..
A festa Junina foi muito legal, dançamos quadrilha e assistimos o hilário casamento na roça. Depois foi só curtir o bate papo com os amigos, assando umas batatas doce na fogueira. Não fomos dormir muito tarde, mas como de costume, também não acordamos cedo. Enrola daqui e dali e deu a hora de almoçar.. Feijoada! Enrola mais um pouco.. Fomos preparar as boias, enchendo uma na pequena bombinha manual, amarrando melhor outra pra dar o formato, pintando nome. Parecíamos crianças construindo pipa ou carrinho de rolimã. Quando saímos já eram quatro e meia da tarde!
Levamos seis câmaras, mas somente quatro coletes, depois do teste do dia anterior achamos que o colete salva-vidas era o item mais importante – até mais do que a boia, por isso somente eu, Luizão, Xanda e Mônica descemos. Bia e Paulinha foram também para assistir e ajudar
Novamente chegamos no ponto inicial. Este trecho do Ribeirão das Lages fica após uma represa, por isso ele tem o seu fluxo de água sempre constante durante qualquer época do ano e é muito procurado para o rafting. Sua classificação é nível 3 e 4 nestes primeiros quilômetros onde as operadoras levam os clientes e 5 e 6 após, onde somente os mais experientes costumam fazer
Quando chegamos, notamos que as águas estavam bem mais rápidas, a represa devia estar abrindo as comportas. Eram cinco da tarde, mas caímos assim mesmo. A saída não teve nenhum problema mas logo na primeira curva, Mônica se assustou com a direção que a correnteza levava sua boia e, achando que fosse bater nas pedras e bambus da margem, se jogou na água, Xanda tentou ver o que houve e caiu também. Ajudamos as meninas a subir de volta com alguma dificuldade e continuamos. Agora na calmaria
Em certo momento, Luizão disse ter visto um jacaré e Xanda se jogou na água de medo! Não entendi.
O sol já havia desaparecido e somente tínhamos uma fraca luz que ainda restava, Quando passamos em frente a uma humilde casa na beira do rio. No dia anterior, o pessoal dali nos cumprimentara.
– A corredeira está próxima?
– O quê? Vocês vão descer aquilo lá? Vou me preparar pra assistir!!
Esse diálogo veio a minha mente junto com o barulho da água que comecei a ouvir.
A noite caindo e o barulho da água vindo após a curva assustou a Mônica, que preferiu sair ali mesmo. Luizão foi ajudá-la a sair e Xanda ficou esperando-o. Eu deixei as águas me levarem.
Tentei avistar o carro e Bia lá no alto na beira da estrada mas não vi, agora eu precisava me concentrar no que estava por vir, o barulho parecia maior, as ondas estariam maiores também? Mesmo assim, me dirigi para o lado direito, onde a corredeira era maior e mais longa
Depois que Bia nos deixou no rio, trouxe o carro de Luizão até um ponto onde eu indicara que seria o melhor lugar para ela assistir agente passando, seria bem de frente pra confusão das águas e agora ela esperava ali pela gente. Foi quando viu somente uma boia vazia passando. Começou a ficar preocupada, já que as outras duas não passavam e Mônica chegou trazendo sua boia pela alça.
– Mônica, eu acho que aconteceu alguma coisa, eu vi só uma boia passando vazia!
As duas devem ter ficado preocupadas por muito tempo, pois escureceu e aí é que não devem ter visto mais nada mesmo.
Minha última ação foi manter à direita pra enfrentar as ondas maiores, já que no dia anterior eu fui pelo meio do rio. Só me lembro de ter descido o primeio degrau e ficar de frente pra primeira onda, que parecia maior ainda do que ontem. Pensei novamente: Não vai dar! Agora vou virar!
E virei. Que sensação de impotência! Água batendo na cabeça, lutando em vão pra me manter fora d`água, mesmo em pé, quando submergia, meus pés não tocavam o fundo, eu tentava puxar a boia pra perto de mim pelo strap, esta virava e caia na minha cabeça, eu estava bebendo água pra diabo quando eu me dei conta que eu ali era apenas um pé de meia numa máquina de lavar. Mais uma onda. Nova confusão em baixo d`água, quando tinha tempo, soltava o ar e pegava mais fôlego. Relaxei um pouco e procurei minha boia e não a vi, de repente senti a corda, que me ligava à boia, pelo colete, esticar, me puxando, e me tranquilizei. Ainda estava presa à mim! Me conformei em apenas segurá-la desesperadamente pela alça para que a turbulência não me tragasse para o fundo. Aos poucos, a confusão foi passando, consegui montar novamente na boia e procurei um remanso para esperar meus colegas. Putz, eu estava vivo! Mas apreensivo por Luizão e Xanda que demoravam muito a chegar. Apesar de ter sido somente por alguns instantes, aconteceu tanta coisa que pareceu uma eternidade.
Finalmente distingui no escuro o que parecia alguém montado numa boia. Logo depois consegui distinguir uma outra boia vazia e a voz de Luizão que gritava assustado sem resposta:
– Xanda! Mô! você tá bem? Xanda?!
Corredeiras no Escuro
Após auxiliar a Mônica a sair do rio, Luizão se dirigiu para as corredeiras com Xanda. Iam separados por alguns metros. Passaram as primeiras ondas até que um bote trombou no outro e Luizão foi derrubado na água, Xanda se manteve na boia e era assim que eu os via chegar.
Fui remando com as mãos de encontro a eles, mas assim que eu entrei na correnteza, não deu pra me aproximar mais. Já estávamos nos aproximando da segunda corredeira que começava embaixo de uma ponte da Dutra.
Quando passamos de carro por ali, lembro de ter visto a corredeira e ela não me pareceu tão violenta. Mas agora, no escuro e vendo de perto, o barulho estrondoso da água tal qual uma cachoeira dava um aspecto ameaçador àquele trecho. Uma grande pilastra da ponte dividia as águas do rio ao meio. Fiquei indeciso sobre qual caminho tomar e como eu vinha pelo meio do rio, achei que talvez eu pudesse parar e subir na pilastra para observar primeiro o que me esperava adiante. Faltando um metro para tocar a pilastra, a correnteza que a contornava, me puxou para o lado esquerdo e, em fração de segundo, eu já estava enfrentando a primeira onda. Num outro instante, me vi na espuma, fora da boia, lutando outra vez pra tomar fôlego quando minha cabeça emergia em meio às ondas e turbilhões do rio. Eu não podia acreditar que eu estava de novo na água. Nesse momento fiquei com medo. Talvez fosse a escuridão que aumentava com o passar do tempo e tornava o cenário mais assustador.
“Agora me lasquei”, foi a primeira coisa que imaginei.
“Xanda e Luizão estão vindo atrás e vão se lascar também!”, foi a segunda coisa que me passou pela cabeça.
Eles vinham mais atrás, mas mais pra direita e quando chegaram na pilastra da ponte, trombaram com ela, virando os dois pra dentro do rio e passando pela “máquina de lavar” apeados da montaria flutuante.
No fim deste novo trecho, consegui voltar pra cima da boia e, junto com Luizão, que também estava em cima, tentamos ajudar a Xanda a montar no bote novamente. Ela estava exausta, e aquela já era uma tarefa difícil pra ela mesmo no início, imagina agora.
Foi quando percebemos que estávamos entrando em outra corredeira, um pouco mais calma. Gritei pros dois para que nos mantivéssemos unidos e que assim talvez formássemos um conjunto mais estável pra enfrentar essas novas ondas e assim entramos novamente na turbulência. Eu e Luizão sobre as boias e Xanda ainda na água. Uma onda me derrubou e fui obrigado a soltar os outros dois. Por sorte, a confusão passou logo e novamente montei na boia. O rio ficava mais liso nesse momento, mas as águas continuavam velozes e percebi novo estrondo de água ao longe. Olhando para a curva que o rio fazia, avistei nova corredeira. Tinha chegado a hora de parar.
Gritei para Luizão, que estava para trás, que eu iria nadar para a margem esquerda. Falei para Xanda que estava próximo a mim para agarrar-se firmemente ao meu pé ou a uma das alças da boia e comecei a braçar para a margem esquerda, enquanto procurava um lugar que pudéssemos sair do rio. Um bambu que avançava para a água, e passava por mim lentamente, me deu a idéia de usá-lo, segurando-o, para me aproximar mais da margem ou freiar totalmente. A segunda opção foi se mostrando inviável a medida que a correnteza aumentava o peso que eu segurava com a mão direita. Fui obrigado a soltá-lo. Pelo menos conseguimos ficar mais perto da margem e agora passávamos à frente de um pequeno remanso, com uma micro praia de uns dois metros de comprimento. Era agora ou nunca, botei todo minha força nas braçadas, enquanto Xanda ajudava batendo os pés. Luizão também conseguiu sair neste ponto junto conosco e colocar os pés em pedra firme foi um alívio.
Olhando para as outras corredeiras adiante, constatamos que aquele foi o momento certo de sair. Já estava quase que totalmente escuro! Pegamos um caminho entre o mato que nos levou a uma estrada de chão e mais adiante estávamos na Rodovia Pres. Dutra. Um carro parado após a ponte com o pisca alerta ligado deveria ser o nosso resgate. Atravessamos a rodovia, a ponte e lá encontramos Bia, Mônica e Paulinha.
Agora era só contar as aventuras.
Xanda foi a que mais gostou da aventura.
Na semana seguinte eu e Luizão voltamos a Paracambi e fizemos o percurso todo até a ponte na estrada para Paracambi onde LH nos resgatou.