Existem pessoas que não se abatem por nada. Até mesmo os mais terríveis obstáculos são encarados como novos e maravilhosos desafios. Assim começa a hist&oa
Existem pessoas que não se abatem por nada. Até mesmo os mais terríveis obstáculos são encarados como novos e maravilhosos desafios. Assim começa a história de Joseph Klimber. Vítima de vários percalços, o jovem não deixa que nada o desmotive e sempre consegue dar a volta por cima, transformando as tragédias que se abatem sobre ele em novos desafios.
Na verdade, Joseph Klimber não é real, mas sim um dos mais famosos personagens da Cia de Comédia Os melhores do Mundo e protagonizado pelo ator Welder Rodrigues, que faz o Jajá, do Programa Zorra Total, da Rede Globo. O quadro, com milhares de acessos no Youtube , começa exatamente com as primeiras frases deste texto. Para contar a história de Klimber, o grupo buscou inspiração nas palestras motivacionais, método muito utilizado para treinar e estimular os funcionários a buscarem melhores resultados dentro das empresas e que, após comemorar algumas décadas, vem sendo alvo de críticas.
Especialistas da área de Recursos Humanos acreditam que este tipo de programa de treinamento virou modismo, são usados em excesso e acabam fugindo de seu propósito, como o coach Renato Ricci, diretor- executivo da Qualitec Consultoria Empresarial, membro do ICF – International Coaching Federation e um dos primeiros associados ao IBCO – Instituto Brasileiro de Consultores de Organização. Segundo ele, os programas motivacionais – palestras e eventos em geral – sempre existiram e continuarão a existir, mas vêm ganhando adaptações por aqueles que se dizem especialistas e o resultado é a banalização do segmento.
" Não tem propósito algum colocar um grupo de executivos dentro de um bote, em um rio qualquer, só porque é moda ou porque as grandes empresas estão fazendo. Se não há propósito, é perda de tempo "
A seu ver, o maior problema é que, ao invés de serem atores coadjuvantes de um programa de formação profissional, esses programas passaram a ser encarados como atores principais e com o objetivo de causar uma mudança de performance ou comportamento nas pessoas totalmente irreal.
Antes, enfatiza, um bom programa de treinamento tinha muito conteúdo e algumas dinâmicas para fixar alguns conceitos. Hoje, o conteúdo foi deixado de lado.
– É incrível como as empresas gastam rios de dinheiro para que seus executivos passem a noite na selva, subam em árvores, atravessem sobre brasas, pulem de pára-quedas, etc. Que resultados práticos e mudanças no estilo de liderar isto causa? Na minha opinião, este resultado depende de cada um. Muitos participam destes eventos meramente porque a empresa exige. No fundo, eles detestam, acham ridiculo, mas não expõem suas opiniões com medo de serem taxados de retrógrados – afirma.
Coordenadora de Treinamento e Desenvolvimento da Personal Service, Bianca Lemos, concorda que o método tem passado por uma fase de banalização, mas lembra que as palestras motivacionais e atividades ao ar livre são ferramentas excelentes . No entanto, frisa que, como toda atividade de treinamento, precisa ser planejada com responsabilidade e com objetivos bem definidos.
– Não tem propósito algum colocar um grupo de executivos dentro de um bote, em um rio qualquer, só porque é moda ou porque as grandes empresas estão fazendo. Se não há propósito, é perda de tempo – afirma, acrescentando que, neste casos, a ferramenta se torna um fracasso, pois, ao invés de motivar, acaba deixando os participantes constrangidos, com medo, e não resolve as questões.
– É impressionante como executivos e líderes são expostos a este tipo de programa com objetivos não muito claros e, muitas vezes, inócuos. Saem de seu ambiente de negócios e mergulham na profundeza dos programas motivacionas que prometem resgatar, em algumas horas, tudo o que poderá transformar o profissional em um super gestor – completa Renato Ricci.
Enfatizando a importância da área de Treinamento e Desenvolvimento para as empresas, André Moraes, presidente da Talento & Profissão, se diz a favor das empresas que valorizam e investem neste tipos de programas de treinamento, mas concorda que, muitas vezes, os investimentos são mal direcionados. Ele tambêm acredita que há um modismo em relação a palestras motivacionais e treinamentos que, algumas vezes, exageram um pouco na dose.
A falta de entendimento de que treinamento é coisa muito séria dentro das organizações também preocupa Bianca Lemos, que afirma já ter presenciado situações que considerou bastante difíceis.
" É um típico Big Brother executivo. Recentemente, participantes de um programa motivacional acabaram parando no hospital devido a queimaduras nos pés provocadas pelo exercício de andar sobre brasas "
– Hoje, qualquer um acha que pode reunir um grupo, ir para um hotel e fazer várias brincadeiras motivacionais. Só que quando você percebe no grupo uma demanda, você precisa estar preparado para lidar com as dificuldades, sejam elas físicas, emocionais ou pessoais. Já vi algumas pessoas perderem o controle em um treinamento e o palestrante não soube o que fazer.
Big Brother executivo
Os consultores também condenam algumas atividades que são aplicadas. Cada vez mais ousados, obrigam os participantes a subir em árvores, andar sobre brasas, praticar esportes radicais, acampar na selva, dançar, atividades que, na maioria das vezes, acaba expondo os participantes ao ridículo e, às vezes, ao perigo, tudo em nome da esperada mudança.
– É um típico Big Brother executivo. Recentemente, participantes de um programa motivacional acabaram parando no hospital devido a queimaduras nos pés provocadas pelo exercício de andar sobre brasas. Parece que o poder da mente não funcionou para todos da mesma forma – afirma Ricci.
Para ele, investir nestes programas ”acrobáticos” é jogar dinheiro fora e tempo precioso das pessoas no lixo. Seria muito mais barato e produtivo parar o trabalho no meio da tarde, por 30 minutos, para que todos pensem livremente no que pode ser feito de forma mais inteligentes, menos burocrática, mais inovadora, que realmente agregue valor aos produtos da organização.
– O resultado é imediato e ninguém precisa se expor ao ridículo ou ao medo para fazer isso.