Anti-herói no Aconcágua vence Festival

Show de ‘iurrús!’ na platéia e dois prêmios para um montanhista nada convencional

 

Show de ‘iurrús!’ na platéia e dois prêmios para um montanhista nada convencional

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Paulo Marim Júnior leva o prêmio de Melhor Filme da Mostra de Montanha

Sintonia total entre o público e o júri da 7ª Mostra Internacional de Filmes de Montanha, realizada no Rio de Janeiro, e que se encerrou na noite de sábado. “Aconcagua sin mulas”, de Paulo Marim Júnior, levou os prêmios de Melhor Filme, dado pelos jurados, e o de Melhor Filme na Votação Popular. Resultado justíssimo para uma produção que soube transformar seus pontos fracos em fortes, narrando a conquista do pico mais alto das Américas por um montanhista solitário, bem humorado e sem a menor pinta de herói. “Karma”, de Simon Spink, levou os prêmios técnicos: Melhor Fotografia e Melhor Diretor. Outro resultado perfeito, já que a saga do escalador Eliseu Frechou pelas montanhas do planeta é contada de forma inteligente e muito bem fotografada.

O que fez a diferença então entre os dois filmes? Certamente a personalidade extrovertida de Junior. Enquanto Eliseu encara o montanhismo de maneira apolínea, exaltando o rigor, o esforço, o sacrifício, Junior sobe o Aconcágua de maneira quase dionisíaca. Erra as previsões, se perde, faz compras erradas, quebra o bastão de apoio… Poderia ser qualquer um de nós. Em seu micro-discurso de agradecimento, fez questão de citar a filha:

– Era em você que eu pensava quando decidia os limites da minha aventura.

Palavras nada heróicas, já se vê, mas ainda assim cheias de um romantismo que empolgou a platéia e os jurados. “Itatiaia, visto por dentro”, de Christian Spencer e Gibby Zobel, ficou com a menção honrosa.

 

 A última noite

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"Mc Kinley, a montanha mais fria do mundo" abre o último dia da Mostra 

“Mc Kinley, a montanha mais fria do mundo” abriu a mostra competitiva nacional no sábado e foi o melhor programa dessa primeira parte. O montanhista Guilherme Rocha narra a sua odisséia com garra e dedicação, ainda que tropece aqui e ali no vernáculo. Coisa pouca. Sua narração também podia ser menos prolixa, mas ainda assim é um filme bem feito a que se assiste com atenção. A atração seguinte, “100 km no Cerrado”, não passa da cobertura de um evento para 500 bikers em Brasília. Boas imagens, ritmo frenético, de Jimi Hendrix a Cordel do Fogo Encantado na trilha. Mas é só uma grande reportagem.

“Travessia Petrópolis – Teresópolis é a volta da já nem tão mineirinha Juliana Franqueira em seu programa +Ação da TV Cultura. Explica-se: passaram-se dois anos entre o primeiro, exibido na noite de quinta, e este. Juliana já não tem a graça juvenil de outros tempos e programa de série se desgasta com a produção contínua. “Roberta Nunes: E se você não existisse”, de Márcio Bortolusso, homenagem à montanhista paranaense que morreu em 2006, é uma bela colagem de arquivos pessoais e de amigos, mas termina sem dar informações importantes sobre a biografada.

 

 Show de Iurrús!
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Melhore bikers do mundo vão a lugares fantásticos no filme canadense "Roam"

A Mostra Banff que se seguiu foi a mais quente de todas as noites. Se houvesse um aparelho para medir a quantidade de iurrús no Cine Odeon, certamente alcançaria o pico – ou, no caso, o cume. Também não foi para menos. O canadense “Roam” vai a alguns dos mais belos lugares do mundo com os melhores bikers do mundo. Desertos, cidades, tudo é cenário para manobras super-radicais. “Disturban behavior”, só de escalada urbana e boulder, também agita a galera, estrategicamente colocada no balcão do cinema.

“Fatima’s hand”, apesar de trazer um meio-fracasso de duas base jumpers americanas, é tão bem filmado que ninguém fica triste. Mas é a luta de um homem contra uma pedra que leva a massa ao delírio: o suíço Didier Berthod, um dos melhores escaladores do mundo, passa meses tentando ser o primeiro homem a vencer a fenda de granito Cobra Crack no Canadá. Ganha ou perde? Não importa, “Didier vs. The Cobra” é um filmaço.

 

 Antes de descer…

As dificuldades de se fazer cinema no Brasil também se refletem no cinema de montanhismo. A fotografia, o som, o roteiro, todos esses aspectos têm que ser desenvolvidos para que um filme possa agradar a todos os públicos, mas não há patrocínio, não há dinheiro para produção. Quem se habilita? Marim levou os prêmios porque soube contar muito bem sua a história, vencendo as limitações técnicas com um ótimo roteiro. Demorou! E como a 7ª Mostra chegou ao fim, está na hora de descer a montanha. Vejo vocês lá embaixo.

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