Luizão, Fernanda e Xanda se distanciaram bastante de nós e quando chegamos no rio lá em baixo tivemos uma surpresa, era impossível passar por causa da força da água, o primeiro grupo estava bem adiantado e já deve ter pego o rio forte, mas deviam ter conseguido.
Combinamos a viagem no forró onde Ana, Fernanda e Alessandra costumavam ir para conhecermos também essas três novas companheiras de viagem.
Depois de enfrentar 25 km de estrada de PEDRA e terra a partir de Casimiro de Abreu, chegamos a Sana. A cidade é a menor que já vi até hoje, com somente um orelhão – recentemente instalado – e nenhum banco, mas muito bonita. Também é muito peculiar, parece uma colônia de hippies, rastafaris ou forrozeiros, sei lá. Ficamos no camping Art Café, no centro, ou seja na rua principal, a única.
No dia 31 eu e as meninas fomos dar uma volta de madrugada para ver se achávamos um forró e voltamos ao amanhecer. Todos os outros ainda dormiam elas também se preparavam para ir para a barraca e como eu não tinha muito sono, resolvi andar um pouco para conhecer o lugar. Caminhando, lembrei que as meninas não estavam muito seguras de subir com a gente a trilha do Peito do Pombo – um pico que tem o estranho formato de um pombo peitudo com 1400 m de altitude-, apesar de termos contado sobre nossas aventuras, elas queriam subir com alguém que já tivesse feito o caminho. Foi quando resolvi subir primeiro, sozinho, para poder guiar o grupo a tarde.
A trilha começa beirando diversas cachoeiras e mesmo após horas andando você ainda passa por casas – algumas bem grandes – que só se chega a pé, de mula ou cavalo. Por diversas vezes você precisa passar por porteiras ou quebra-corpos, o que te dá a impressão de estar andando por dentro de fazendas particulares. Após atravessar o rio deve-se tomar cuidado para pegar a direita em uma bifurcação logo antes de uma erosão enlameada. Depois de ir e voltar algumas vezes procurando o caminho correto da trilha, cheguei ao Peito do Pombo com o maior sol, imagino que levei de duas a três horas porque não levei relógio e o celular, que mostrava a hora da operadora, não pegava sinal nenhum na cidade inteira. Dormi um pouco sobre a pedra e os mosquitos me fizeram acordar para começar a descida. Quando cheguei era mais ou menos uma hora da tarde e todos estavam no rio. Contei como era a subida, almoçamos e começamos a arrumar as coisas. Eu mal podia acreditar que ia subir duas vezes a pedra!
Quando estava tudo pronto, o céu já estava nublado. Quando começamos a subir a trilha já estava chovendo, mas como estávamos no verão, todos nós tínhamos esperança de que a chuva passasse logo, como aconteceu nos dias anteriores. Levamos umas quatro horas para subir em baixo de uma chuva torrencial e quando chegamos não havia nada que não estivesse ensopado, nem o que estava dentro das mochilas escapou.
A primeira coisa que fiz Quando cheguei foi tirar a roupa toda e ficar de sunga de banho, fiz isso atrás da Cabeça do Pombo – a pedra redonda sobre a pedra onde estávamos – onde não estava ventando. Quando voltei ao lugar onde estavam Xanda e Fernanda encontrei Fernanda chorando e tremendo muito enrolada em uma manta metálica emprestada por um grupo que já estava lá antes da gente. Nós três havíamos chegado primeiro e a barraca e algumas mochilas com o resto do equipamento estavam com o resto do pessoal e por baixo da manta, Fernanda ainda continuava com as roupas encharcadas. Com muito custo, conseguimos aquecê-la, depois de tirar suas roupas (ela estava de biquini por baixo) e ir para um lugar abrigado do vento e nos mantendo abraçados. O resto do nosso grupo chegou depois e tudo se resolveu Quando montamos a barraca.
Esperamos a chuva passar e dar meia-noite para comemorarmos o Reveillon, a chuva parou à meia- noite e o horizonte se abriu como por mágica para que pudéssemos ver a queima de fogos em quatro praias do litoral de Macaé, meia hora depois o tempo fechou novamente e começou a chover. Começou também uma das noites mais longas que já passei, muito otimistas que estávamos só levamos uma barraca de três lugares, que foi ocupada logo pelas meninas, como éramos sete, a noite inteira revezamos entre dois sacos de dormir molhados, a barraca que cabia três deitados e três sentados, e o abrigo da Cabeça do Pombo, que só abrigava da chuva, mas não do vento, nem dos mosquitos – estes tiveram um banquete, visto a quantidade de picadas que alguns de nós tiveram.
No dia seguinte acordamos com um garoa fraquinha, mas que começou a engrossar a medida que íamos arrumando as coisas para descer. O grupo que encontramos lá em cima, já estava descendo e novamente pegamos a trilha toda em baixo de chuva. Para descer, normalmente levamos quase a metade do tempo em qualquer caminhada, desta vez eu, Billy Jean, Alessandra e Ana ficamos para trás por que Ana tinha um enorme medo de escorregar – percebi também que ela também tinha um grande medo de altura quando chegamos em uma laje próximo a um penhasco e correram algumas lágrimas de seus olhos.
Luizão, Fernanda e Xanda se distanciaram bastante de nós e quando chegamos no rio lá em baixo tivemos uma surpresa, era impossível passar por causa da força da água, o primeiro grupo estava bem adiantado e já deve ter pego o rio forte, mas passou. Eu e Filipi começamos a tentar jogar um tronco na outra margem, mas a água trazia-o de volta, passamos a cortar uns bambus que alguns acham dar o nome a cidade. Eles eram bem grandes e resistentes, com mais ou menos uns 15 cm de diâmetro, mas o comprimento ficou meio curto, enquanto eu cortava um maior, Billy Jean, que tomou um talho no dedo limpando os galhos do bambu, foi procurar um outro lugar para atravessar o rio mais acima ou uma casa para passarmos a noite, se fosse o caso. Alessandra, que já estava bem nervosa e chorou algumas vezes, foi com ele e voltou mais triste ainda pois não acharam nada. Eu disse a Billy Jean que deveria haver um lugar e ele voltou, desta vez sozinho. As meninas ficaram abrigadas da chuva em folhas de bananeira enquanto eu já preparava para levar o bambu recém cortado quando Filipi voltou correndo e empolgado dizendo ter achado um lugar para atravessar o rio.
Andamos mais ou menos meia hora, distância que ele fez correndo, e chegamos a um rio que batia na canela, estranhei o fato de estar tão fraco aqui e tão forte lá em baixo, mas atravessamos. Logo apos umas folhagens vimos um outro rio mais largo e que batia na coxa, a união dos dois explicava o volume de água lá em baixo. Havia uns bambus colocados para auxiliar a passagem, pois mesmo ali a correnteza já estava forte e aumentava a cada hora.
Depois desse rio, encontramos outro maior com mais ou menos um metro de altura e mais largo que se juntava aos outros dois, dessa vez não havia bambus para ajudar e tivemos que fazer uma corrente, dando as mãos.
Caminhamos mais ou menos uma hora atravessando fazendas, e escorregando com freqüência no lamaçal que tinha se transformado o caminho. Cada fio de água que encontramos na vinda havia se transformado em uma mini-cachoeira e o barro vermelho criava uma crosta de dois centímetros na sola do sapato, o que dava a impressão de estar andando no sabão. Acompanhávamos o rio e agora, mais abaixo, o volume de água e a força com que ela descia pelo leito pedregoso nos fazia imaginar o que aconteceria se tivéssemos escorregado mais acima. Procurando a trilha inicial, passamos por uma cabana de sapê e resolvemos descansar um pouco, mas como o lugar era muito rústico e mal iluminado, as meninas ficaram com medo de ficar ali e resolvemos continuar andando, logo depois encontramos a trilha principal e continuamos a viagem até encontrarmos Luizão voltando para nos procurar, só de sunga e descalço, dizendo que estávamos três horas atrasados e que todo mundo no camping estava preocupado e que já estavam pensando em vir procurar a gente.
Com o Luizão ajudando com as mochilas – já que eu e Filipi levávamos a nossa e a de mais uma menina desde que nos separamos do primeiro grupo – finalmente chegamos ao nosso camping, na cidade. Chegava ao fim uma das aventuras que mais gosto de lembrar.